A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

Documento revela que Ratzinger defendeu uma reforma do celibato

por Miguel Mora e Laura Lucchini, do El País

Em 1970, Joseph Ratzinger (foto) pensava que o celibato não era uma instituição intocável. Mais que isso: era partidário da sua reforma e de que a Igreja católica voltasse à tradição antiga oriental: padres casados, bispos celibatários. A posição consta, preto no branco, num documento nunca publicado, assinado pelo atual Papa, que na época era professor em Tübingen, e por outros oito teólogos alemães, que foi publicado pela revista Pipeline, do grupo católico crítico Aktionskreis Regensburg (AKR).

O texto era um relatório preparatório solicitado pela Conferência Episcopal Alemã aoSínodo dos Bispos que se realizaria no ano seguinte em Roma. Os teólogos alemães indicavam que a obrigação de não casar era uma das principais causas pela falta de vocações e de jovens padres. O documento tem a data de 2 de fevereiro de 1970 e foi assinado por estudiosos de fama mundial como os teólogos Karl Rahner, Otto Semmelroth e os atuais cardeais Karl Lehmann e Walter Kasper.

“Nossas consultas e estudos coincidem na necessidade de um tratamento diferente da lei que estabelece o celibato (...) tanto para a Igreja alemã como para a Igreja mundial”, escreveram os teólogos no relatório dirigido aos bispos alemães.

A notícia é mais curiosa que desconhecia. O debate sobre o celibato foi um dos dois argumentos centrais do Sínodo realizado em 1971, sob o papado de Paulo VI: o segundo tema crucial na reunião foi a elaboração de um texto sobre a nova ordem econômica mundial, que antecipou a iminente crise do petróleo.

O contexto geral da Igreja estava mudando radicalmente. Graças à abertura favorecida pelo Concílio Vaticano II, que durou de 1959 até 1965, um vento de renovação sacudia a Igreja e a sociedade civil. Maio de 68 em Paris. Argélia lutando pela sua independência. “A Igreja se sentia já globalizada. Eram os anos do boom da Igreja africana e latino-americana”, recorda o vaticanista Filippo di Giacomo. “Com a descolonização da África, haviam nascido cerca de 50 países novos em apenas poucos meses de 1960, e isso havia obrigado o Vaticano a criar 46 novas conferências episcopais”.

O celibato entrou no Sínodo porque o Concílio havia ampliado a atenção para a África; porque o caso Lefebvre, deposto por ordenar bispos africanos, havia suscitado muita polêmica, e também, afirma Di Giacomo, “porque a Igreja previa que em poucos anos haveria um enorme aumento de católicos que necessitariam ser evangelizados”.

Para atender essa demanda que se esperava, o Vaticano pensou que ordenar padres casados, voltar à tradição antiga oriental, poderia ser uma solução eficaz. Paulo VI não quis tomar a decisão sozinho, e submeteu a questão à discussão do Sínodo, afirmando que respeitaria o resultado da votação.

Todas as conferências de bispos europeus pediram opinião aos teólogos sobre a decisão a ser tomada. Também os teólogos italianos, como o cardeal Pellegrino, os franceses e os espanhóis apoiaram frente aos seus episcopados a decisão de reformar o celibato. Apenas os norte-americanos se opuseram.

A surpresa foi que, no Sínodo, os bispos europeus votaram a favor da reforma do celibato, mas os latino-americanos e africanos se opuseram majoritariamente.

“O paradoxo”, analisa o canonista Di Giacomo, “é que o episcopado teoricamente mais conservador fez a escolha progressista, e os progressistas, entre eles os que na sequência dariam forma à Teologia da Libertação, pediram ao seu episcopado que votassem contra”.

Os autores do documento eram assessores da Conferência Episcopal Alemã, e mesmo no texto respeitam muitas vezes que com sua análise não queriam “prejudicar nenhuma decisão”, todos os autores se diziam “muito convencidos da necessidade de reexaminar a obrigação do celibato por parte dos níveis mais altos da hierarquia eclesiástica, pois”, afirmavam, “é urgente”.

Independentemente do resultado da discussão, o celibato deveria permanecer como uma verdadeira e real opção para os sacerdotes que assim o desejarem, segundo os autores. “Quem, contudo, considera este esclarecimento supérfluo, demonstra ter escassa fé na força deste conselho do Evangelho e na misericórdia de Deus”.

O documento com a assinatura de Ratzinger, que não foi publicado até agora, foi entregue por um colaborador de Karl Rahner a outro clérigo de confiança que pertencia ao grupo católico crítico com a Igreja da cidade de Regensburg, o Aktionskreis Regensburg (AKR). O documento permaneceu cuidadosamente arquivado durante 41 anos, e aparece agora publicado pelo AKR em sua revista Pipeline.

Os autores do documento raciocinaram então sobre o que agora a cúria vaticana, e o próprio Papa, demonizam como “espírito do tempo”. Naquele texto consideram possível uma revisão do celibato “simplesmente porque seria teologicamente incorreto” que “não se pudesse voltar a submeter à prova algo em um novo contexto histórico e social”. “Dizer o contrário”, escreveram, “não seria possível através de nenhum argumento teológico”.

Os teólogos mencionavam o exemplo da Igreja oriental, e se referem muitas vezes à Bíblia, por exemplo, à Epístola de Paulo aos Gálatas. Do documento se desprende a tomada de consciência dos teólogos de que o Concílio Vaticano II estava tendo efeitos nos níveis mais baixos da Igreja. Em 1970, assim como hoje, os teólogos ortodoxos estavam preocupados com a falta de guias espirituais. “Agora os jovens padres se perguntam sobre a cada vez mais grave falta de padres e sobre como se pode superar o problema vital da Igreja e de seu próprio ofício. Para eles, não basta o olhar ideal para o passado”. O problema seria “colocar em dúvida hoje a factibilidade de uma vida celibatária para os jovens padres de agora”.

Os principais fatores a considerar seriam, disseram os teólogos, a perda de um verdadeiro reconhecimento por parte da comunidade de fiéis, assim como a “fragilidade psíquica dos jovens em uma sociedade superexposta à sexualidade”. Os autores consideravam que, caso não se conseguisse atrair padres jovens, “então a Igreja terá a obrigação de levar a cabo uma modificação de sua moral”. Mais ou menos o que acontece hoje. Com a diferença de que agora são outros tempos.

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novembro de 2008

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