Postura de dona da verdade facilita pedofilia na igreja
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A onda de escândalos de pedofilia na Igreja está ligada ao fato de que a “instituição pensa que é dona da verdade, se encontra em uma situação de onipotência e esconde assim os fatos”. A opinião é de Christine Pedotti – historiadora e teóloga, co-fundadora da Conferência Católica dos batizados da França, um movimento que critica a extrema centralização e falta de democracia na Igreja Católica – em entrevista ao jornal Libération, 25-03-2010.
Eis a entrevista.
Como você explica essa onda de escândalos na Igreja Católica?
Acho que estamos assistindo a uma liberdade de expressão, as pessoas se atrevem a falar. Não acredito em uma conspiração para complicar Bento XVI como sugerem alguns sites ultras católicos. É mais fácil dizer que a culpa é da mídia, do que reconhecer que é preciso compreender o que está por detrás desses acontecimentos.
O que é preciso compreender sobre esses acontecimentos?
Eu não estou de toda segura que exista uma correlação entre o celibato dos padres, frustração sexual e pedofilia. Eu acredito, entretanto, que há uma correlação entre a pedofilia e uma instituição que pensa que é dona da verdade e se encontra em uma situação de onipotência e esconde assim fatos que são individualmente horríveis, mas que se tornaram ordinários. Os escândalos de pedofilia não têm nada a ver com o celibato dos padres, mas com a incapacidade da instituição em reconhecê-los. É preciso se perguntar sobre a forma como a instituição coloca homens em situação de autoridade sobre as almas, e cuja autoridade sobre as almas podem ser pervertidas pelo poder sobre o corpo.
Você não acha que alguns católicos sofrem de imaturidade sexual e se “refugiam” no sacerdócio?
Não existem estatísticas e tampouco análises sobre se de fato existe uma especificidade da pedofilia no caso dos padres. Nós não podemos dizer que há certa percentagem de pedófilos na população em geral proporcional a um percentual com os sacerdotes, ou se é um fenômeno específico do sacerdócio. Lembro-me do livro Le nouveau visage des prêtres [A nova cara dos padres – tradução livre]. O autor é um padre americano que foi vigário geral, secretário de um bispo e diretor de seminário. Este livro foi escrito no contexto dos casos de pedofilia divulgados nos EUA no início de 2000. Ele sugere que os casos de pedofilia no clero têm uma especificidade que levanta questionamentos. A verdadeira questão não seria o celibato, mas a imaturidade sexual de alguns jovens que querem se tornar padres quando ainda se encontram na fase da puberdade. É uma escolha bastante incomum um jovem decidir que não terá uma vida sexual e tampouco uma família. Que não exercerá a responsabilidade da paternidade. Talvez ele devesse se interrogar sobre essa escolha.
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