A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

‘Pobre Nietzsche! É considerado o culpado de tudo’

O filósofo italiano Franco Volpi, em artigo para o jornal La Repubblica, 10-04-2009, comenta as recentes declarações de Bento XVI sobre Nietzsche. "Um dos problemas da Igreja atual é que a produção da felicidade escapou-lhe das mãos. Mas não é culpa de Nietzsche se a força dos Evangelhos se esvaece e a condição do homem ocidental é sempre mais paganizada", afirma. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

nietzsche

Segue o artigo.

Pobre Nietzsche! Foi o único filósofo ao qual coube o singular privilégio de ser considerado o responsável nada menos do que de uma guerra mundial. Durante o conflito de 1914-1918, em uma livraria de Piccadilly, estavam expostos na vitrine os 18 volumes das suas obras completas em inglês, com uma inscrição em letras enormes: "The Euro-Nietzschean-War: leiam o diabo para poder combatê-lo melhor!".

Depois, veio o nacional-socialismo, e algumas de suas doutrinas – o super-homem no sentido da seleção biológica, a vontade de poder, a antropologia do animal predador [1] e da "besta loira" [2] – foram consideradas, da mesma forma, como uma fonte de inspiração da ideologia racista e do totalitarismo.

Mais tarde, dado que ele diagnosticou algumas experiências negativas do século XIX como a "morte de Deus", a decadência dos valores tradicionais e o advento do niilismo, produziu-se uma singular transferência: trocou-se o seu pensamento pela causa da crise que ele, na realidade, queria só analisar e superar. Nietzsche se tornou, então, o destruidor da razão, o mestre do irracional, o teorizador do niilismo e do relativismo.

Todos esses estereótipos condicionaram fortemente a sua imagem e o seu destino. E por isso ele suscitou entusiasmos e atraiu anátemas, inspirou movimentos de vanguarda, modas culturais e estilos de pensamento, mas também provocou reações e rejeições também determinadas. Obviamente, também do lado católico.

Mesmo que notáveis intérpretes – padre Paul Valadier, por exemplo, ou o teólogo Eugen Biser – tenham procurado mostrar o contrário, não há dúvida de que, entre algumas doutrinas nietzscheanas e ensinamentos fundamentais do cristianismo, haja uma profunda incompatibilidade. Não admira, por isso, que o Papa considere Nietzsche um mau mestre e que remeta à sua filosofia alguns dos males do mundo contemporâneo. Nos últimos anos, ele não se cansou de denunciar o perigo do relativismo e do niilismo, fomentado por Nietzsche. Agora, ao criticar o ideal de humanidade predominante no mundo atual, baseado no valor da autoafirmação individual, egoísta e libertária, recorda a responsabilidade de Nietzsche: "Ele desdenhou a humildade e a obediência como sendo virtudes servis, pelas quais os homens teriam sido reprimidos. No seu lugar, colocou a ufania e a liberdade absoluta do homem".

Ora, além do fato de que a obra de Nietzsche é um autêntico quebra-cabeças, repleto de fragmentos e aforismos cuja combinação em uma doutrina de conjunto é tudo menos comprovada, seria um erro não aprofundar os motivos que surgem dessas críticas com alguma pergunta. E é melhor tomar Nietzsche não pelas respostas que ele dá, mas pelas perguntas que coloca.

Primeiro: depois que a história nos ensinou que, muitas vezes, a possessão de Verdade produz fanatismo, e que um indivíduo armado de verdade é um potencial terrorista, surge a questão: o relativismo e o niilismo são verdadeiramente o mal radical que nos é apresentado? Ou talvez eles não produzem também a consciência e da relatividade de todo ponto de vista, portanto também de toda religião? E então não veiculam, talvez, o respeito do ponto de vista do outro e, por isso, o valor fundamental da tolerância? Há coisas bonitas também no relativismo e no niilismo: inibem o fanatismo.

Quanto à concepção aristocrática e libertária do homem, também aqui seria um erro limitar-se à superfície dos aforismos singulares de Nietzsche. Seria como, em um quadro impressionista, ver só os toques cromáticos e não o conjunto da obra. Bem, como trágico observador do vazio espiritual em que o mundo moderno desemboca, Nietzsche não quer ser um "pregador de morte".

Ele não pretende se debruçar sobre a negação dos valores e o "cupio dissolvi" [desejo dissolver-me, morrer]. Pelo contrário, quer superar o niilismo: quer, sim, fazer com que ele se cumpra de modo a "tê-lo atrás de si, debaixo de si, fora de si". É esse fim que um contra-movimento do qual nascem novos valores deseja, e ele o localiza na criatividade dionisíaca da arte.

A sua crítica da mentalidade e da moral "do rebanho", a sua defesa do que podemos definir como um "direito à excelência", é uma tentativa de superar a esterilidade da simples proibição, da abnegação e da renúncia, que mortificam a vida. Nietzsche quer que a vida se realize em todas as suas potencialidades. Porém, aconselha uma atitude "criativa" que dê à vida toda a sua plenitude, análoga à do artista que imprime em sua obra uma forma bela. Nesse sentido, a sua nova moral é uma espécie de "estética da existência", cujo imperativo recomenda: "Torna-te aquilo que és!". E mesmo que a vida não seja bela, cabe a nós procurar torná-la assim.

Um dos problemas da Igreja atual é que a produção da felicidade escapou-lhe das mãos. Mas não é culpa de Nietzsche se a força dos Evangelhos se esvaece e a condição do homem ocidental é sempre mais paganizada.

Notas:

1. Na genealogia dos sentimentos morais de Nietzsche está a vontade de poder, pois este homem que se diz humano, para Nietzsche, é um tipo de animal predador que se utiliza de uma linguagem racional para justificar e mascarar sua ânsia de domínio. Nietzsche desconfia das boas ações, pois no fundo delas há apenas uma espécie de vontade de poder.

2. A "besta loira", para Nietzsche, significava o homem que nada temia e para o qual tudo era válido e permitido desde que dai resultasse algo de útil. Devia, por conseguinte, eliminar todos aqueles que parecessem fracos ou doentes.

> Vaticano critica campanha que põe em dúvida a existência de Deus. (março de 2009)

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