Enem do servidor federal vai oferecer em 2024 mais de 7 mil vagas

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A partir de 2024 haverá uma prova nacional unificando o processo de seleção de servidores federais, um Enem dos Concursos”, como o objetivo de facilitar o acesso da população às provas, inclusive em cidades do interior. A primeira prova será realizada no dia 24 de fevereiro.  A estimativa de vagas é de mais 7 mil no primeiro ano do concurso, Provas serão simultaneamente em 179 cidades das 5 regiões Cada ministério poderá decidir se vai aderir a esse modelo ou fazer os concursos por conta própria. O exame acontecerá ao mesmo tempo em 179 municípios, sendo 39 na Região Norte, 50 no Nordeste, 18 no Centro-Oeste, 49 no Sudeste e 23 no Sul. Haverá duas provas no mesmo dia. Uma com questões objetivas, comum a todos, e outra com perguntas específicas e dissertativas, divididas por blocos temáticos. Os candidatos para Trabalho e Previdência farão a mesma segunda prova, por exemplo; já os candidatos para Administração e Finanças Públicas, outra. As vagas abrangem os seguintes setores: Administr

Abusos colocam população contra Forças Armadas (Istoé)

Sob o sol da manhã de sábado 14, na subida do Morro da Mineira, centro do Rio de Janeiro, deu-se um encontro insólito entre o tenente do Exército Vinícius Ghidetti e um dos traficantes que mandam na favela.

Acompanhado de um sargento e nove soldados, o oficial apontou para três jovens detidos pelos militares e disse: "Trouxe um presentinho pra vocês." O bandido quis saber: "São alemão?" - na gíria que identifica integrantes da facção rival. "São da Provi", explicou o oficial, referindo-se ao Morro da Providência. Depois disso, despediu-se do bandido com um caloroso "Valeu!" Foi embora ainda sob o eco dos gritos desesperados dos três jovens, que pediam: "Pelo amor de Deus, eles vão nos matar!".

E mataram mesmo, pouco tempo depois, no alto do Morro da Mineira. Não sem antes, como é de praxe na cartilha de crueldade do tráfico, torturar barbaramente os jovens Wellington Gonzaga da Costa Ferreira, 19 anos, David Wilson Florêncio da Silva, 24, e Marcos Paulo Rodrigues Campos, 17. Eles levaram 46 tiros, a maioria na cabeça. David teve parte do braço decepado, Marcos foi arrastado pelas pernas depois de morto e Wellington teve as mãos amarradas antes de ser executado.

Os corpos foram achados horas depois, num vazadouro de lixo da Baixada Fluminense.

O delito dos três jovens - detidos duas horas antes, no Morro da Providência quando voltavam de um baile funk - foi resistir à revista feita pelos soldados do Exército, que há seis meses ocupam a favela para garantir a execução do projeto Cimento Social, criado pelo senador Marcelo Crivella (PRB) e encampado pelo Ministério das Cidades.

A partir de então, David, Marcos Paulo e Wellington passaram a ser tratados exatamente da forma inversa à recomendada no documento confidencial que baliza a atuação da tropa naquela comunidade: como inimigos. Também não foram observadas as recomendações de que "todas as ações deverão desenvolver-se obedecendo aos preceitos legais e jurídicos vigentes no País" e de que "a força só deverá ser empregada quando esgotados os meios pacíficos de resolução de conflitos".

O crime inqualificável fez o País se lembrar dos piores momentos da ditadura militar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o episódio como "ato insano", "abominável" e defendeu indenização para as famílias das vítimas.

Apesar da indignação, o governo federal é responsável pela atuação temerária e ilegal do Exército no Morro da Providência, pois permitiu que uma operação de garantia da lei e da ordem (GLO) fosse empreendida mesmo sem a aprovação oficial do presidente Lula e do Congresso Nacional.

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A lambança feita pela tropa verde-oliva no Rio é mais uma de várias recentes. A morte de um cadete em treinamento da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e a polêmica em torno da ação na Amazônia são outros casos que levantam questionamentos sobre o preparo e a atuação das Forças Armadas.

A Lei Complementar 117 prevê que a decisão da utilização do Exército nesses casos é do presidente, com a concordância do Congresso. Isso só pode acontecer depois que ele ou o governador considerarem "esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública". Além disso, o texto recomenda que as ações se desenvolvam "de forma episódica", "por tempo limitado". Nenhuma dessas exigências foi observada. Mesmo contrário à utilização da tropa na favela carioca, o comandante do Exército, general Enzo Peri, tentou amenizar a situação e em várias entrevistas disse que a ação na Providência não é uma GLO - o que dispensaria, portanto, a observação do que determina a Leia Complementar 117.

Mas o documento Procedimentos Operacionais Padrão e Regras de Engajamento à Operação Cimento Social, do próprio Exército, diz o contrário. Na quarta-feira 18, a juíza Regina Coeli de Medeiros de Carvalho Peixoto, da 18ª Vara Federal, determinou a retirada imediata das tropas. O governo federal prometeu recorrer da decisão.

Para os parentes e amigos dos três rapazes assassinados, entretanto, nada pode reverter o quadro. "Não pude abraçar o corpo do meu filho, estava todo cortado, envolto em ataduras", desabafa Lílian Gonzaga da Costa, 57 anos, mãe de Wellington. Ela foi a última pessoa do morro a ver os três jovens antes de serem entregues aos traficantes da Mineira. "Fui ao quartel e vi Wellington e os amigos deitados no pátio. Perguntei para onde seriam levados e me responderam que iriam para a delegacia", lembra ela. Chorando descontroladamente, Lílian recorda que viu o filho sair do quartel, no Largo de Santo Cristo, dentro de um caminhão, com os outros. "Ele sorriu para mim. É a última imagem que tenho dele", disse. Segundo a mãe, o corpo do filho estava totalmente dilacerado. "Até os órgãos genitais foram arrancados", afirmou. Wellington era um garoto como tantos outros que nascem na miséria. Largou os estudos no terceiro ano do ensino básico e ia começar a trabalhar nas obras do projeto Cimento Social. Foi preso, aos 19 anos, com um celular roubado. Segundo Lílian, foi libertado ao provar que não fora o autor do roubo. "Ele apenas achou o aparelho na rua", disse.

David também já tinha sido preso por porte de arma. Apesar da informação da polícia, Deise Guimarães, sua mãe adotiva, negou que o filho tivesse antecedentes criminais. A última vez que o viu foi pouco antes de ser rendido pelos militares. "Ele chegou do baile com o irmão. Tirou o tênis, calçou uma sandália e saiu. O irmão só não foi levado porque decidiu ficar em casa", lembra. O jovem ajudava a avó a fazer doces e salgados e estudava à noite, na mesma escola onde estudava a terceira vítima, Marcos Paulo. Em comum, esses garotos tinham a paixão pelo funk. Marcos não perdia um baile no Morro da Mangueira, zona norte da cidade. A última vez que Maria de Fátima Barbosa viu o filho adotivo foi na noite da sexta-feira 13, quando ele saiu com um grupo de amigos para ir a esse baile. "Nunca imaginei que o Exército faria isso", lamentou. "Pegaram meu filho só porque ele estava olhando os militares agredindo os outros dois rapazes", diz a mãe. Seja o que for, nada, nunca, poderá justificar a execução dos rapazes pelo poder paralelo com a colaboração do poder oficial.

A parceria criminosa entre integrantes do Exército e traficantes da Mineira é apenas um capítulo na seqüência de arbitrariedades relatadas pelos moradores da Providência. Josuel Bueno Ribeiro, 32 anos, conta que foi atingido por fragmentos de um tiro de fuzil disparado pelos soldados na tarde de sábado 14, quando todos já sabiam da morte dos três jovens. "Eu estava na praça com meus filhos pequenos. Ouvi os tiros e percebi que tinha sido atingido", relata. Priscila da Silva, 20 anos, prima de Wellington, sofre pela segunda vez com uma baixa em sua família causada pelo Exército. Em 2006, na primeira ocupação dos militares, os soldados mataram outro primo, Eduardo dos Santos, 16 anos, porque confundiram o guarda-chuva que ele portava com um fuzil. "Não agüento mais isso", chora ela. Outro morador da Providência, Luiz Alberto Ferreira, 34 anos, se considera um sobrevivente: foi levado de carro, pelos soldados, até a subida do Morro da Mineira e diz ter ouvido ameaças que, felizmente, não foram cumpridas. "Moro aqui há dez anos e nunca foi assim", lamenta.

 

O tenente Ghidetti, o sargento Leandro Maia Bueno e os soldados José Ricardo Araújo e Fabiano Eloi dos Santos, agentes da tragédia, tiveram suas prisões preventivas decretadas. Outros sete soldados estão presos. Testemunhas dizem que era costume do tenente e outros militares gritar para quem consideravam suspeitos: "Vou levar vocês para os traficantes da Mineira!" Localizada a pouco mais de três quilômetros de distância, o Morro da Mineira é controlado por bandidos da facção conhecida como Amigos dos Amigos (ADA), inimiga do Comando Vermelho (CV), que domina a Providência há muitos anos.

A rivalidade é extrema, a ponto de moradores de uma região não poderem freqüentar locais controlados pela outra. A sentença para tal "deslize" é a morte. Essa lei inaceitável, mas real, obrigou as famílias dos mortos a sepultá-los no Cemitério São João Batista, em Botafogo. No Caju e no Catumbi, os mais próximos da Providência, a ADA não permite sepultamentos de moradores de áreas do CV. O oficial, porém, em seu depoimento, disse desconhecer essa truculenta realidade que até as crianças sabem existir. Alegou imaginar que os rapazes levariam "apenas" uma surra.

O tenente, o sargento Leandro Maia Bueno, 24 anos e os outros nove soldados envolvidos foram indiciados por homicídio triplamente qualificado.Ghidetti, 25 anos, tem o perfil de um bom moço. Não fuma, só bebe ocasionalmente, adora natação e artes marciais. Em sua página no site de relacionamentos Orkut, se autodefinia como "atlético e atrativo", leal à família e ao Exército. "Amo a verdade, a dignidade e o amor ao trabalho", escreveu.

Disse detestar duas coisas: "O uso de drogas e as piranhas que se fazem de santinhas." Ghidetti foi um dos 434 oficiais formados pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), no ano passado. Infelizmente, ele parece ter levado a sério demais o rigor com que a academia forma seus militares. A frase "Só stress. Não há limites para a maldade", impressa em camisas que são vendidas dentro da Aman, é a estampa pronta e sem retoques do que acontece por detrás dos muros da maior instituição militar do Brasil.

No últimos dias, a Aman - fundada há 58 anos e localizada em Resende, no Estado do Rio - ocupou o noticiário pela trágica história de sofrimento protagonizada por um de seus cadetes. Maurício Silva Dias saiu de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em busca do sonho de ser um oficial do Exército brasileiro. "Mãe, vou ser general", dizia. Mas Maurício teve seu sonho interrompido ao tombar morto, às 21h57, na sexta-feira 13, por exaustão física.O atestado de óbito registra causa indeterminada. "Ele morreu depois de 15 horas de exercícios físicos", disse a tenente Adriana, assessora de imprensa da instituição. Para a mãe, Cleuza Silva, isso e nada é a mesma coisa. "Entreguei meu filho são, sadio e recebo seu corpo entre quatro tábuas. Não pode ser assim."

Outros dois cadetes, Daniel Fernandes de Magalhães e Isaías Moisés Nascimento, tiveram de ser hospitalizados em conseqüencia dos exercícios. Aos 19 anos, Maurício recebia salário de R$ 612.

unto com outros 150 alunos, ele enfrentava o chamado "Meg", a mais temida bateria de treinos da Aman. "Lá é o inferno", disse um cadete, que pede para não ser identificado. Os jovens ficam 60 horas sem dormir, executando imensas caminhadas e alimentando-se mal, entre simulações de combate em pântanos, emboscadas, marchas, rastejamentos e trabalhos de comunicações.

"No segundo exercício, da manhã do primeiro dia, depois de andarmos por 24 quilômetros, ele não agüentou." Casos como esse não são raros. Foram seis mortes no último ano. O cadete Expedito Eduardo Sobral Cavalcante, 21 anos, faleceu em 2005 após perder a mão quando uma granada explodiu durante uma das instruções da academia. Desolada, a mãe, Maria Lúcia, não viu os militares responsáveis na cadeia. "Ninguém fala sequer em indenização, como o presidente prometeu aos jovens que morreram no Rio", diz.Episódios como os da Aman e do Morro da Providência mancham a imagem do Exército.

O procurador militar João Arruda, autor do livro O uso político das Forças Armadas, acredita que na Providência houve uso político-partidário de uma tropa federal. Sobre as arbitrariedades cometidas na favela, Arruda lembra o Império, quando o Estado colocou o Exército para perseguir os escravos. "Hoje a tropa é empregada para construir estradas, levar água para o Nordeste, distribuir cestas básicas e perseguir bandidos", relaciona. O vice-presidente José Alencar discorda que a ação no morro carioca tenha caráter político: "O Brasil inteiro está indignado", diz.

Para o presidente do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo, o episódio da Providência era facilmente previsível. "O Exército pode fazer uma ação tópica e logo depois voltar ao quartel, não ficar indefinidamente", diz ele. Por isso, argumenta, o comandante militar do Leste, general Luiz Cesário da Silveira Filho, e o comandante do Exército foram contrários à operação. Resta saber por que, contra os especialistas das Forças Armadas e ao arrepio dos dispositivos constitucionais, o governo decidiu manter a tropa no morro (ALAN RODRIGUES, FRANCISCO ALVES FILHO E RENATO GARCIA)

> Mais um tenente da Aman morre em treinamento. (junho de 2008)

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