A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

Se um chinês comer um pouco mais por ano...

..haverá efeitos na inflação, na segurança alimentar dos países e na desigualdade mundial, dizem especialistas. A reportagem é de Fabiana Ribeiro e publicada pelo jornal O Globo, 18-05-2008.

O que aconteceria no mundo se cada chinês aumentasse em 25% seu consumo anual de frango e porco?

Um frango e oito quilos de suíno a mais na mesa de cada chinês por ano teriam efeitos nos preços da comida, na economia dos demais países, na segurança alimentar e na desigualdade mundial, alertam especialistas.

É um cenário possível em cinco ou seis anos — que poderia ter efeitos agravados em caso de problemas climáticos ou acidentes naturais.

Nos cálculos de Mauro Lopes, especialista em agricultura da Fundação Getulio Vargas (FGV), para cada frango a mais consumido por habitante na China, por ano, serão necessários 5,6 milhões de toneladas de milho e 2,4 milhões de toneladas de soja.

E cada oito quilos a mais de suínos na dieta anual dos chineses demandam 21,5 milhões de toneladas de milho e 7,8 milhões de toneladas de soja.

Mais proteínas e menos cereais na dieta Soja, na opinião de Lopes, não é o problema. A questão é o milho: a China teria de importar os 27,1 milhões de toneladas extras do grão. As exportações anuais dos Estados Unidos são de cerca de 60 milhões de toneladas. Isto é: um aumento de consumo dessas proporções da China acarretaria uma explosão de preços do milho ou privação para muitos consumidores em outros países. Ou os dois cenários, prevê o especialista.

— Se somarmos o que Brasil e Argentina exportam, isso ainda não atenderia à demanda extra da China. Se o consumo de alimentos na China continuar crescendo, não haverá produto para todo mundo. O efeito é nos preços, que poderiam triplicar. Por isso, a taxa de crescimento populacional da China tem que cair. E é preciso fazer ajustes internos para que o país cresça até 6% ao ano (atualmente são cerca de 11%) — disse Lopes.

Estaria, então, o futuro do mercado de alimentos — e da crise — na mesa dos chineses?

Para o professor da FGV, sim.

— A crise de alimentos está nas mãos da China, se ela não conseguir conter o desejo do povo de se alimentar mais e melhor. Aí não há cenário possível de se prever. As grandes movimentações populares na China partiram de escassez de alimentos. É uma questão política — explicou Lopes, frisando que petróleo e clima são fatores que contribuem para a crise.

— Estamos no limite, com estoques baixos, que não atingem hoje 12,5% do consumo mundial. Se houver problema de clima, como começou a ocorrer com atraso no plantio de milho em Missouri, Iowa, Mississipi há uma semana, uma importação extra de seis milhões de toneladas seria a gota d’água que desencadearia elevação insuportável de preços.

Mas a pergunta é: até que ponto os EUA suportarão a pressão mundial para que o país reveja a política de etanol? O aumento de renda da população chinesa — rural e urbana — explica parte da crise dos alimentos. E a urbanização fortalece a alta do consumo, embora ainda seja de 39%, equivalente à taxa do Reino Unido em 1850 e à dos Estados Unidos em 1911. Ao trocar o campo pela cidade, boa parte busca empregos na indústria, que pagam mais. No entanto, esses trabalhadores urbanos se tornam consumidores de algo que não produzem mais: alimentos. E querem comer melhor: mais proteína animal, menos cereais.

— Com melhores salários, não é qualquer elevação dos preços que conterá o consumo de alimentos na China. E se alguém come mais, outro come menos — explicou Chico Menezes, do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

Na avaliação de Menezes, um aumento abrupto do consumo na China teria força para espalhar fome nos quatro cantos do mundo: — Esse aumento de consumo pode tornar vulneráveis regiões que não cuidaram de seu autoabastecimento, como países da África, Honduras, El Salvador, Haiti e México. E, com isso, a questão da segurança alimentar está ameaçada especialmente nesses países: mais gente pode comer menos e pior. Menos comida, preços ainda mais altos.

Uma equação que levaria o mundo a aumentar a desigualdade.

Os especialistas se dividem, no entanto, na hora de refletir sobre as possíveis saídas para o problema. Segundo Menezes, não há soluções globais: — Frente a um consumo desse porte, os governos terão de resolver seus problemas de forma independente. Restrições como a da Argentina com o trigo (veto à exportação) podem se multiplicar.

Para Pierre Vilela, analista da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, o fim dos subsídios agrícolas especialmente em Europa e EUA, que mexem artificialmente nos preços, e um livre comércio é uma das saídas à crise dos alimentos e ao aumento de consumo na China — e ainda em Índia e Rússia.

Na China, oportunidade para o agronegócio brasileiro Ricardo da Cotta, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), pondera que um salto de 25% no consumo de frango e suínos não se dá de um ano para o outro. E que, por isso, o mundo tem como se preparar para abastecer a China. Os países terão que produzir mais e ter uma maior produtividade. Nesse contexto, o Brasil sai à frente — com terra, água e capacidade de aumentar a produção.

— A fome na China é uma excelente oportunidade para o agronegócio brasileiro.

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