Do leitor Clayton Ávila Alves:
Prezado Jornalista Paulo Roberto Lopes,
Ao cumprimentá-lo, faço referência à frase extraída do depoimento da mãe da menina Isabella Nardoni, Ana Carolina de Oliveira, publicado na matéria “
Perícia tenta descobrir se roupa com sangue é do pai de Isabella”:
“Na entrevista, a primeira que concede, Ana não acusou diretamente ninguém de ter assassinado a sua filha. Em momento algum ela cita o nome do ex-marido ou da atual mulher dele, a estudante de direito Anna Carolina Jatobá, 24.”
Trata-se do equívoco que as gramáticas contemporâneas fazem, colocando o pronome algum para tornar frases negativas. O dito pronome tem valor negativo associado à negativa de reforço nenhum, que, na linguagem coloquial, não faz uma segunda negação, mas implicitamente a inclusão - nem uma só, mas qualquer de todos. Caso contrário, uma frase do tipo não tem nada seria a negação de nada, ou seja, tem algo, e assim caracterizaria o reforço como uma nova negação.
Não tem nada = não tem (o que seja) nada; ou seja,
Tem alguma coisa.
Antes de se entender a significação de algum num contexto negativo, tem-se o conceito que revela a ambigüidade do pronome nenhum:
Nenhum (negação): nem mesmo um; nem sequer (= nem ao menos) um;
Nenhum (reforço): nem um único; nem um só; até mesmo um; qualquer; e mesmo um; um ou qualquer.
Por isso a dupla negativa tem razão de existir como reforço, uma vez que esta segunda partícula não representa outra negação, analisando a mesma frase do exemplo:
Não tem nada:
Antes que se negue a nada ter, há de se entender o reforço da seguinte forma:
1) Negativa posterior a substantivo:
- Não tem coisa nenhuma;
- Não tem coisa 'nem uma só';
- Não tem coisa e mesmo uma;
- Não tem coisa ainda que uma;
- Não tem coisa alguma.
2) Negativa anterior a substantivo:
- Não tem nenhuma coisa;
- Não tem nem uma única coisa;
- Não tem 'e não uma única' coisa;
- Não tem quaisquer coisas;
- Não tem o que quer que seja.
No português antigo e médio, podia dar-se a posposição de algum com sentido positivo. De fato, ainda o tem, se for observado o significado ambíguo da negativa, apesar de haver certa incoerência de gramáticos, que não levam em conta esse aspecto.
Desse modo, nunca se pode empregar as expressões citadas abaixo como negativas, mas em substituição ao reforço de negativa.
De modo algum (de modo ainda que único);
De forma alguma (de forma ainda que uma só);
Em espécie alguma (em espécie ainda que uma só);
Em hipótese alguma (em hipótese ainda que uma única);
Em momento algum (em momento ainda que seja um).
Coisa alguma (coisa ainda que seja uma; coisa mesmo que mínima)
Pessoa alguma (pessoa ainda que seja uma)
Com isso, elimina-se a ambigüidade existente em frases com dupla negativa.
Exemplos:
Não resultou em nada.
1 - Negação com reforço
Não resultou em coisa alguma.
2 - Negação da negação = nova afirmação
Em alguma coisa resultou.
Não ficou com nada.
1 - Negação com reforço
Não ficou com coisa alguma.
2 - Negação da negação = nova afirmação
Ficou com alguma coisa (algum valor).
Diante do exposto, com relação ao depoimento de Anna Carolina Jatobá, seria apropriada a transcrição e publicação da frase:
“Na entrevista, a primeira que concede, Ana não acusou diretamente ninguém de ter assassinado a sua filha. Em nenhum momento ela cita o nome do ex-marido ou da atual mulher dele, a estudante de direito Anna Carolina Jatobá, 24.”Sendo assim, agradecendo a atenção dispensada, espero que o enfoque colocado seja levado em consideração.
Clayton Ávila Alves
PS.: O texto ao qual Clayton se refere é uma transcrição no blog de uma notícia publicada em um jornal.
É isso mesmo. Nunca vi tanto empenho de jornalistas em criticar a polícia e tentar aliviar o que esse casal patético fez.
ResponderExcluirSobre a mãe da Isabella Ana Carolina de Oliveira ela tem sido muito resignada e a imprensa não a respeita. não a deixa em paz nem mesmo no cemitério.