A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

I love português (reportagem da revista Língua Portuguesa de outubro de 2007)

Cresce a procura pelo aprendizado do português nas universidades norte-americanas; a variante brasileira desperta mais interesse que a de Portugal, apontam professores

Rachel Bonino

Com o pequeno mas consistente aumento da importância do Brasil no cenário internacional e do número de brasileiros nos EUA, cresce também a oferta de cursos de português entre os norte-americanos

A língua portuguesa virou um inusitado objeto de desejo dos americanos. É um amor brando ainda, nada comparado à devoção quase canina que os brasileiros dedicam ao inglês. Mas que se fortalece na rabeira do crescimento do mundo lusófono na América do Norte.

O número de brasileiros que escolheram os Estados Unidos para viver quintuplicou em vinte anos. Em 1980, eram 48 mil, número que saltou para quase 250 mil segundo o último dado oficial disponível, do Censo de 2000. Pesquisas mais recentes indicam, no entanto, que o total de imigrantes brasileiros já passou de 500 mil, incluindo os que estão em situação ilegal. Acrescente aí o número da população de imigrantes portugueses (que já soma cerca de 1,5 milhão de pessoas), mais os habitantes de outros países falantes de português. Pronto, tem-se uma fatia considerável do universo da língua portuguesa habitando a parte norte da América.

Diante desse quadro, e da natural atenção dada à estabilização econômica e à política externa por vezes ousada do atual governo brasileiro, dá para entender o aumento do interesse pela língua portuguesa por parte do alunado norte-americano. Novas cátedras foram abertas em grandes universidades, como Harvard, Princeton, Emory e Dartmouth College. A Michigan State University organiza, no momento, seu bacharelado duplo em espanhol e português. Atualmente, a instituição oferece cursos de língua portuguesa, além de outros sobre literatura, música e cinema brasileiros.

A Modern Language Association of America (MLA) publicou um relatório em 2004 com resultados que mostram o aumento de matrículas nos cursos de português nas universidades norte-americanas. Entre 1998 e 2002, os alunos inscritos em cursos de língua superior passaram de 6.926 para 8.385. O crescimento de 21% superou o aumento nos cursos de espanhol (13,7%), de francês (1,5%) e de alemão (12,3%), embora estes idiomas tenham apresentado um número maior de matrículas proporcionalmente.

- A maioria das pessoas que quer aprender português nessas instituições, antes, já assimilou o espanhol. Elas querem se especializar em culturas latino-americanas - acredita a professora de português Clémence Jouët-Pastré, de Harvard.

Crescimento

De 2003 até esse ano, as matrículas para o curso de português triplicaram em Harvard. Em setembro, a professora colocou em uso a versão oficial do material didático para ensino de português para estrangeiros - do qual é co-autora -, chamado Ponto de Partida (ler quadro).

Para a professora, o aumento do interesse pelo português e por línguas latinas nos Estados Unidos também tem uma explicação cultural: o país, ao contrário de outros da Europa, acolhe mais a cultura latina. Está atento ao importante mercado que os falantes do português representam.

Na Europa haveria um preconceito ainda forte sobre o aprendizado de línguas latinas, consideradas menores. Solange Parvaux, presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Estudos Portugueses, Brasileiros, da África e da Ásia Lusófona, já disse em 2006 que o desconhecimento pelos europeus da língua e da cultura de matiz portuguesa e brasileira "se justapôs à imagem de língua de emigração, não facilitando sua expansão no ensino".

- O português ainda é pouco estudado, mas a procura tem aumentado, sobretudo devido ao aumento do interesse pelo Brasil em geral, que se reflete na crescente visibilidade do país em diversas disciplinas acadêmicas. Não é sempre que o interesse por essas áreas leva o aluno a estudar o nosso idioma, mas com certeza esse aumento de visibilidade faz com que a procura pelo português cresça, mesmo que gradativamente - analisa Marília Ribeiro, mineira, professora de português na Michigan State University.

Preferência nacional

As proporções continentais, a importância do mercado econômico e produtivo e a cultura têm conquistado admiradores entre os alunos norte-americanos do português do Brasil.Das oito entidades de ensino norte-americanas consultadas por Língua, seis responderam priorizar o ensino da variante brasileira do português. A demanda, alegam eles, partiu dos próprios alunos norte-americanos.

- Há professores em vários departamentos da universidade como o de Ciências Políticas, História, Economia e Agricultura que são especialistas em estudos brasileiros e seus alunos vão estudar português principalmente por causa de seu interesse no Brasil - conta o baiano Antônio Luciano Tosta, coordenador do programa de português e cultura brasileira da University New York.

- No início do curso, pergunto aos alunos qual variante do português eles querem aprender. O do brasileiro ganha disparado. A última vez que fiz essa pergunta, 25 levantaram a mão para o brasileiro, e somente três para o português de Portugal - comenta Clémence, de Harvard.

Horizontes

A procura teria muito de motivação financeira.

- Economicamente, o Brasil é muito mais importante que Portugal. Os alunos sabem desse potencial, das possibilidades de emprego para quem seja especializado em alguma área de pesquisa relacionada ao Brasil - aponta o professor Saulo Gouveia, mineiro, professor de português da Michigan State University.

A turma da professora Maria Luci De Biaji Moreira, do College of Charleston, em viagem a Manaus: primeiro livro didático oficial, em parceria com nomes como Clémence Jouët-Pastré, de Harvard


Há também o meio-termo: estudantes que optam por uma variante de acordo com o estágio de estudo em que se encontram.

- Há mais estudantes universitários de graduação e pós-graduação que se interessam pelo português do Brasil do que pelo europeu. No ensino médio, há os falantes "de herança" em algumas áreas dos Estados Unidos e eles estão mais relacionados com o português europeu. De um modo geral, o português brasileiro predomina - pontua Maria Luci De Biaji Moreira, paranaense, professora de português no College of Charleston.

Imigração portuguesa

Embora haja uma maioria interessada na variante brasileira, existem instituições que focam o português de Camões muito por conta da concentração de imigrantes portugueses. É o caso das universidades Massachusetts (campus Dartmouth) e Havaí.

- Temos 40 mil portugueses no Havaí, vindos principalmente da Ilha da Madeira, de Lisboa e de várias ilhas açoreanas - explica o professor de português, Paul Chandler, que é norte-americano.

Já em Dartmouth, é a população estudantil, em sua maioria descendentes de portugueses, que solicita um estudo mais direcionado da variante européia do português.

- Na nossa universidade, e em algumas outras que também se situam nas áreas com uma concentração maior de descendentes, como New Jersey e algumas áreas da Califórnia, existe a preferência pelo português de Portugal - conta a professora Anna M. Klobucka, polonesa que estuda a língua há mais de 20 anos.

De cá e de lá

Lado a lado, as falas de um português e de um brasileiro possuem diferença por vezes brutal entre as variantes. O americano, a rigor, pode não perceber a diversidade.

- A língua na verdade é uma só e a pronúncia é a grande diferença. Os alunos devem ter o mesmo tipo de dificuldades em aprender ambas as variantes - afirma Gouveia, de Michigan.

Mesmo assim, ele arrisca uma justificativa para alguns alunos considerarem o aprendizado do português do Brasil mais fácil que o de Portugal: o brasileiro teria vogais mais longas e um ritmo mais lento, o que, pelo menos aparentemente, facilitaria o aprendizado.

- O português de Portugal tem como uma das características mais marcantes a contração das vogais, enquanto no Brasil nós inserimos vogais. Acho que essa é a grande diferença que faz com que os alunos percebam o português brasileiro como mais "fácil" de se entender - diz.

O catarinense Pedro Meira Monteiro, professor em Princeton University: professores com sotaques diferentes nos cursos básicos de português

A professora Marguerite Harrison, da faculdade de Smith College, em Massachusetts, concorda que o aluno norte-americano acha mais fácil aprender o português do Brasil. Para ela, aqueles que conhecem um pouco da música brasileira, aprendem imitando os sons e, assim, se familiarizam mais facilmente com a variante brasileira.

Mas a discussão sobre qual é mais fácil ou difícil de aprender ou ensinar esbarra na mesma discussão no ensino de inglês britânico ou americano.

- Temos professores com sotaques completamente diferentes ensinando os cursos básicos de português, e a verdade é que jamais escutei uma queixa dos estudantes a respeito. Aliás, considero muito saudável o cultivo de vários registros. É enriquecedor, sob todos os aspectos - analisa Pedro Meira Monteiro, catarinense, professor em Princeton University.

Independentemente da variante estudada, o aluno americano costuma ter dificuldades comuns: como a pronúncia de algumas consoantes, por exemplo, o r e o x, além dos sons nasais ("mãe", "também", etc) e a palatalização do t e d seguido de e, em alguns casos.

Anna M. Klobucka, da universidade Massachusetts, campus Dartmouth: alunos de lá têm preferência pelo português europeu

- Alguns tempos verbais também exigem mais atenção, como todos os do modo subjuntivo, especialmente o futuro do subjuntivo, e o contraste entre o pretérito perfeito e o imperfeito - indica Marília Ribeiro, de Michigan.

O tom faria a diferença.

- Em geral somos mais barrocos, mais alambicados e tortuosos, enquanto os americanos podem ser de uma objetividade assombrosa quando escrevem e falam - analisa Pedro Monteiro.

Como diria Antonio Cândido, nosso português parece ter um pouquinho mais de açúcar.

Para inglês Ler

Usado de forma experimental desde o início do ano, o material Ponto de Partida foi lançado oficialmente em setembro e já é adotado por várias instituições de ensino norte-americanas. É a primeira vez que um material didático direcionado para o ensino de português é publicado por uma editora comercial - a Pearson Prentice Hall - e não, o mais recorrente, por uma editora universitária.

O projeto Ponto de Partida, que inclui livro, caderno de exercícios, DVDs e dicionário, foi produzido pelas professoras Anna M. Klobucka, (Massachusetts-Dartmouth), Clémence Jouët-Pastré (Harvard), Patrícia Sobral (Brown), Maria Luci De Biaji Moreira (College of Charleston) e Amélia Hutchinson (Geórgia).

- Os alunos reclamavam que os materiais didáticos traziam exemplos muito fora do cotidiano norte-americano e isso prejudicava o aprendizado. Procuramos fazer um conteúdo mais antenado à realidade daqui - explica Clémence.

Uma novidade é o fato do material ser dividido em exercícios focados no português brasileiro e no Portugal, podendo ser montado com conteúdo mais direcionado para um ou para outro. Os enunciados são em inglês para não desestimular o estudante.

Ao custo de US$ 79 (R$ 158), o aluno recebe os livros que se adequam para um ano de estudo básico ou seis meses de ensino acelerado.

Comentários

  1. Reportagem muito interessante. e olha, a valorizaçao do portugues brasileiro tem seus motivos. O portugues europeu é mais dificil de pronunciar (apesar de os portugueses terem um bom vocabulario, o pt europeu exige muitas manobras com a lingua para ser pronunciado), tem uma pessoa a mais para conjugar os verbos, afinal nos brasileiros nao usamos 2 pessoa. E tb pela infuencia economica.

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