A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

A solidão do papa Bento 16

Em editorial, o jornal El País, 29-03-2009, afirma que, entre todas as crises de Bento XVI, "há um problema maior, de abandono. Muitos religiosos não compartilham a forma de estar no mundo desses papas modernos, sempre mais pendentes do que vem de fora do que aquilo que lhes é próprio". A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Segue o texto:

"Hoje, na Igreja, se morde e se devora", escreveu, no dia 10 de março, um Joseph Ratzinger inocente. Era a sua histórica e despida carta aos bispos, admirável peça literária na qual o Papa fez autocrítica, explicou como foi possível o perdão aos lefebvrianos excomungados e aproveitou para revelar a sua inabilidade em navegar na Internet e a aguda divisão interna que vive o catolicismo.

Faltam poucos dias para que se completem os primeiros quatro anos do atual papado, e às duríssimas críticas suscitadas por vários erros encadeados (a reabilitação de um bispo negacionista; o caso Englaro; a excomunhão da mãe e dos médicos da menina brasileira que, depois de ser estuprada, abortou; suas declarações na África sobre o preservativo), a cúpula vaticana respondeu contra-atacando. São acusações "grotescas" que tentam ofender "e rir-se do papa", disse a pouco ingênua Conferência Episcopal Italiana, principal inspiradora da aberrante lei do testamento biológico aprovada nesta semana por Berlusconi.

Para um intelectual como Ratzinger, que centrou todo o seu empenho em tornar razão e fé compatíveis, deve ser doloroso ser colocado em evidência em seu próprio terreno pela prestigiosa revista científica britânica The Lancet, a propósito de seu desagradável comentário sobre o preservativo: a revista o acusa de ter distorcido publicamente as evidências científicas e coloca em dúvida que tenha sido por ignorância e não por uma tentativa pura de manipular a ciência por razões ideológicas.

Mas também deve ser doloroso para o Papa a inibição de cardeais, bispos, irmãs e sacerdotes que não se pronunciam sobre Ratzinger, o eloquente silêncio das melhores cabeças da Igreja, como Carlo Maria Martini, exilado em Milão e refugiado em sua doença; ou o trabalho meritório e obscuro dos missionários que combatem a propagação da Aids na África e na América Latina com a única maneira eficaz que têm em mãos, repartindo preservativos.

Esse manto de silêncio revela seguramente um mal-estar ideológico, mas não só. Há um problema maior, de abandono. Muitos religiosos não compartilham a forma de estar no mundo desses papas modernos, sempre mais pendentes do que vem de fora do que aquilo que lhes é próprio. E muitos veem Ratzinger como uma mera continuidade, menos midiática e pior assessorada, do papa Wojtyla, cuja agonia certamente contribuiu para tapar uma crise que já estava ali, e cujo carisma serviu para acabar com o comunismo, mas também para abandonar as melhores promessas do Concílio Vaticano.

A solidão de Ratzinger é, em todo o caso, um segredo que todo mundo sabe. Sua equipe é mínima, seu estilo suscita rejeição dentro e fora, e sua milenária diplomacia transmite suas decisões quase com a mesma lerdeza que a espanhola. Por alguma razão as pesquisas mostram que a deserção de fiéis cresce mais nos países mais informados, com a Alemanha e a França na frente.

> ‘A História julgará o papa Bento 16 como responsável pela propagação da Aids na África’. (março de 2009)

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