A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

Dekasseguis protestam contra onda de demissões

por Andrea Vialli, do Estado de S.Paulo

A crise econômica está fazendo com que o sonho dekassegui se transforme em um pesadelo para os brasileiros no Japão. Com a piora da economia japonesa em dezembro, as ondas de demissões têm atingido os trabalhadores dekasseguis, em especial nas indústrias automobilística e de eletroeletrônicos. Além da perda do emprego, muitos acabam perdendo também a moradia, e já é percebido um aumento do número de brasileiros sem-teto nas ruas de grandes cidades como Tóquio.

“O quadro é dramático”, disse, por telefone, o sindicalista Francisco Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Estrangeiros no Japão e do Sindicato dos Metalúrgicos da província de Shizuoka. Na semana passada, Freitas reuniu, nas ruas de Hamamatsu, 250 trabalhadores brasileiros recém-demitidos em um protesto contra a perda do emprego. A ideia era sensibilizar o governo japonês.



Atualmente, os trabalhadores estrangeiros são 2% da população do Japão. Só brasileiros, são 320 mil contratados regularmente no país. Com a queda nas vendas da indústria de carros e eletroeletrônicos, os estrangeiros são os primeiros a serem demitidos. Em muitos casos são substituídos por estagiários do norte da China, Indonésia e Vietnã, que recebem US$ 3 por hora de trabalho. Os brasileiros e outros estrangeiros legalizados custam US$ 12 por hora para a indústria. “Como o emprego do cidadão japonês é protegido por leis rígidas, os estrangeiros são os primeiros a sentir os cortes”, disse Freitas.

Francisco Hirata mora em Minowa, na província de Nagano, que concentra fábricas de eletroeletrônicos e tem a terceira maior população de brasileiros do Japão. “Sabemos de pessoas que estão passando por privações”, disse, também por telefone, Hirata, que está de aviso prévio. A empresa para a qual trabalha até 31 de janeiro, a Anec, faz monitores para computadores e demitiu 80 trabalhadores. Sua esposa, Angela, trabalhou até 26 de dezembro.

Ambos vão procurar uma agência para estrangeiros e dar entrada no pedido de seguro desemprego. O benefício é garantido a estrangeiros em situação legal, mas não chega a 70% do salário da ocupação anterior. “Vamos tentar mais um pouco”, disse Hirata. Com uma filha de cinco anos nascida no Japão, o plano era ficar no país até 2011. Se não conseguirem, fazem as malas e voltam ao Brasil.

A brasileira Thaís Yamamoto também passou por um “kubi” (corte de pessoal). Foram 120 demitidos, entre brasileiros, chineses, filipinos e peruanos. Mas conseguiu ser recontratada. “De 120, restaram dois. Estou em uma situação privilegiada”, disse, por ainda ter emprego e por ter alugado a casa em que vive por conta própria, sem intermédio das empreiteiras, empresas que fornecem mão-de-obra estrangeira.

Thaís está no Japão há oito meses. Com ela, vivem o irmão Eduardo, a cunhada Elianee o sobrinho Pedro, de seis anos, além de um casal de brasileiros que também perdeu o emprego. “Íamos ficar quatro anos. Se a crise não amenizar, volto para o Brasil em outubro.” A cunhada de Thaís também foi demitida da Goyo, fabricante de telas para televisão - na empresa, 800 perderam o emprego.

Um dos efeitos colaterais mais penosos para os brasileiros que perdem o emprego no Japão é a perda simultânea de moradia. A maioria dos brasileiros trabalha por meio das empreiteiras, que fornecem apartamentos para os casados e alojamentos para os solteiros. Com as demissões, eles têm de desocupar os imóveis.

“Um desempregado, mesmo com dinheiro na mão, não atende às exigências de locação”, disse o sindicalista Francisco Freitas. “Muita gente está improvisando barracos sob viadutos. Era um cenário, há até pouco tempo, improvável no Japão”.

As manifestações realizadas pelos movimentos sindicais para sensibilizar a opinião pública começam a dar os primeiros resultados. Na província de Shizuoka, o governo ofereceu aos estrangeiros 125 apartamentos que podem ser alugados por até um ano, sem fiador ou caução, a valores subsidiados. Caso o número de inscritos supere o de imóveis, os inquilinos serão escolhidos por sorteio.

Muitos brasileiros querem voltar e não conseguem. Como o custo de vida no Japão é alto, quem mora há pouco tempo no país encontra dificuldades para fazer poupança. Mesmo assim, há muitos tentando. Os voos de Tóquio a São Paulo estão praticamente esgotados até abril. “Só sobraram os assentos mais caros”, disse ao Estado um funcionário da Japan Airlines.

A solução encontrada pelos dekasseguis é recorrer à solidariedade. Há 15 anos no Japão, o padre Evaristo Higa acolhe e alimenta brasileiros empobrecidos. Com a crise, a distribuição de comida dobrou. Recentemente, uma equipe do Itamaraty acompanhou a distribuição de comida feita pelo padre.

Leico Haguino e o marido, Arney, passaram da condição de família classe média em Osaka para a de hóspedes na casa dos Yamamoto, em Ueno. Ela e o marido trabalhavam na Canon, fabricante de máquinas fotográficas. A linha de produção foi transferida para a China, atrás de mão-de-obra mais barata. Se conseguir se livrar de um financiamento de automóvel (uma dívida de 500 mil ienes, ou R$ 8 mil), o casal deixa o Japão. “Estamos loucos para voltar para o Brasil.”

> Recessão no Japão: dekasseguis são os primeiros nas listas de dispensa. (novembro de 2008)

> Brazucas.

Comentários