A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

Recessão no Japão: dekasseguis são os primeiros demitidos

por Eduardo Nunomura, d’O Estado de S. Paulo

No outro lado do planeta, a recessão se confirmou. O ex-jogador de futebol e hoje operário Jeferson Minohara, de 30 anos, já sabia. Ele é um órfão da Toyota.

Licenciado por um acidente numa fábrica terceirizada da montadora, Minohara recebeu há poucas semanas a notícia de que seu contrato não seria renovado. “Com a crise, qualquer motivo já basta para mandarem embora.” O brasileiro já procurou recolocação, mas as empreiteiras de mão-de-obra sugeriram procurar em março ou abril. Nem a mulher,Michelle Okada, pode ajudar. Ela também está desempregada e para cuidar do filhoJeferson, de 3 anos, e de Julia, de 5 meses, ensina japonês para dekasseguis. Mas dos sete alunos que chegou a ter só resta um.

Um dos motores da economia e empregadoras de dekasseguis, as montadoras japonesas amargam perdas substanciais com a crise mundial. Exportadora de sucesso de automóveis de luxo para os Estados Unidos, a Toyota perdeu competitividade com o iene valorizado diante do dólar. Precisou demitir 10% da mão-de-obra. Outras seis das oito fábricas de carros estão desidratando. E o mercado interno não colabora. As vendas de veículos para os japoneses em outubro caíram 13,1% em relação a 2007 - o menor índice dos últimos 40 anos.

Escaldados por uma década de crise, nos anos 1990, os japoneses poupam mais do que o governo gostaria na hora do aperto. É cultural, atávico desde que o país saiu arrasado da Segunda Guerra Mundial. Sem poder contar com o consumo interno, o Japão sobreviveu à última recessão prolongada exportando mais carros e eletroeletrônicos para os Estados Unidos e a Europa. Para isso, os japoneses aprenderam a aumentar a produtividade e reduzir os custos. Sobrou para os dekasseguis.

Na década passada, com salários em torno de US$ 4 mil, os brasileiros mostravam-se empenhados em manter as máquinas em funcionamento. Horas-extras nunca eram dispensadas. A migração do Brasil para o Japão ocorreu em saltos. Em 1990, eram 56 mil; em 1998, 222 mil; e no ano passado, 317 mil.

O que se vê agora é um desfile de velhas empresas conhecidas dos dekasseguis - Sony, Canon, NEC, Panasonic, Sanyo, Honda, Nissan e Yamaha - registrando queda nas exportações. A pergunta já não é mais se o Japão está em recessão, mas quanto tempo vai permanecer com ela. O índice de confiança do japonês vive agora o menor pico da história.

Os cortes dos trabalhadores estrangeiros é um dos recursos para conter as crises. Na dos anos 1990, os salários pagos aos brasileiros já haviam sofrido quedas brutais, de até 40%. Desta vez, as horas-extras foram canceladas, mal se fala em férias coletivas, as listas de cortes são inevitáveis. Chineses, filipinos e indonésios são contratados comotrainees, custam 60% menos que os brasileiros e têm mais chance de permanecer. Já o japonês, chamado de shain, só há pouco tempo passou a ser desligado, mas sempre como o último da fila.
“Não será o fim do trabalho dekassegui, mas certamente haverá uma nova dispersão, sobretudo para as vagas menos rentáveis”, alerta o cientista social Naoto Higuchi, da Universidade de Tokushima. Entre os novos empregos possíveis, Higuchi identifica o mesmo bento-ya oferecido pelas agências de recrutamento brasileiras.

Em Toyota City, moram 4 mil brasileiros nos 60 prédios do conjunto residencial Homi Danchi. No pequeno enclave verde-e-amarelo, Welton Noboru Yoshioka é um ex-operário que virou sócio de uma academia de ginástica. Para manter o negócio de pé, precisaria contar com 400 alunos. Agora são 240. “Só vamos agüentar algum tempo no vermelho, porque temos funcionários que dependem de nós.” Outros negócios voltados para o público brasileiro, como supermercados, restaurantes e escolas enfrentam dificuldades semelhantes.

“A situação é grave”, resume o padre católico Evaristo Higa, que vive há 15 anos no Japão. Nas últimas semanas, notou a presença de “três ou quatro” brasileiros na fila do sopão em Hamamatsu. Uma família tentou, em vão, abrigo na igreja. Ele já tem visto dekasseguis virarem sem-teto, como já havia ocorrido na crise dos 1990.

> Japoneses começam a exigir direitos trabalhistas. (junho de 2008)

> Brazucas.

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