A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

Busca na internet cria novo doente imaginário: o cybercondríaco

por Mariana Pastore, da a Folha

Dor de cabeça ou tumor? Um sintoma cabe em muitas doenças e a confusão é comum, em tempos de doutor Google. Muita gente prefere "ele" à consulta médica, na busca da causa do mal-estar.

A hipocondria digital é um mal contemporâneo batizado de cybercondria. O fenômeno preocupa os médicos, porque além de causar autodiagnóstico e automedicação, pode evoluir para ansiedade e síndrome do pânico.
De acordo com pesquisas internas do Google, 61% dos americanos adultos buscam informações de saúde.
A grande oferta de sites especializados colabora para a autossugestão.

Um exemplo é o site americano de informações de saúde WebMD, que disponibiliza uma animação do corpo humano para o autodiagnóstico. O usuário clica na região onde tem dor e ele abre uma tabela com sintomas que corresponderiam à determinada área e à doença relacionada.

A cybercondria, em diferentes graus, já aparece no cotidiano dos profissiona-is."Os pacientes já chegam ao consultório com informações da internet e ainda fazem buscas após a consulta", afirma Paulo Olzon, clínico-geral da Unifesp.

O médico alerta os desavisados que determinado sintoma pode ser comum a dezenas de doenças e destaca a importância da relação de confiança entre médicos e pacientes. "Na hora que a pessoa fica sem referência, vai buscar por conta própria e acaba se atrapalhando."

Aconteceu com a administradora de empresas Alba Prizão, 27. Ela desenvolveu distúrbios de ansiedade por causa, em grande parte, do excesso de informação equivocada na rede.

Alba começou as loucas buscas por sintomas e doenças depois que teve uma reação alérgica provocada por uma taça de vinho tinto.

Ela conta: "Fui à farmácia, o farmacêutico disse para eu ir ao hospital tratar a reação. Falou que alergia pode evoluir para choque anafilático, mas que não era meu caso".

No pronto-socorro, a administradora foi diagnosticada com alergia e medicada, mas não chegou a ir a um médico. Começou a pesquisar sobre choque anafilático no computador e descobriu que era um problema sério.

Depois disso, foi parar no hospital diversas vezes com sintomas da reação alérgica. "Tinha sempre os mesmos: taquicardia, garganta fechando e tremedeira."

O psicoterapeuta e professor da PUC-SP Antonio Carlos Pereira explica que o corpo reage a situações criadas pelo cérebro: toda a fisiologia pode ser afetada por ideias, daí o risco de conclusões sobre doenças baseadas no dr. Google. Isso posto, ele defende o direito do paciente buscar na rede o significado do jargão usado pelo médico.

Alba deixou de usar xampu, desodorante e sabonete na época, por medo. "Tirei todas as conclusões pela internet, fuçava tudo."

Na última ida da moça ao pronto-socorro, uma médica disse que ele deveria consultar um psiquiatra, pois seu problema era psicológico. Alba foi diagnosticada com ataques de ansiedade.

O supervisor do programa de ansiedade do Instituto de Psiquiatria da USP Luiz Vicente de Mello explica que o medo desencadeia as histaminas, substâncias que nos defendem dos corpos estranhos que nos atacam. "Há relação entre o sistema de alergia e o de emoção. Quem é muito tenso desenvolve sintomas físicos, somáticos."

Hoje, os ataques de Alba cessaram e ela frequenta o especialista uma vez por semana. As buscas na rede diminuíram, mas o fácil acesso ainda lhe parece tentador. "Meus pais e meu médico me proibiram de entrar na internet para procurar doença. Tento não fuçar muito, mas ainda olho", entrega.

Mello afirma que as pesquisas on-line devem ser criteriosas. "Sites confiáveis, ligados a faculdades, ajudam a esclarecer. Já os alternativos podem fornecer informações errôneas e quem não conhece os termos técnicos pode confundir uma doença com outra e transformá-la em preocupação excessiva."

No Brasil, 10% a 15% da população sofre de ansiedade, segundo dados do Instituto de Psiquiatria da USP, enquanto apenas 2% a 4% são hipocondríacos.

Mas o interesse dos pacientes que sofrem desses dois distúrbios é o mesmo: descobrir se têm determinada doença. A ansiedade é tratada com antidepressivos e psicoterapia, enquanto a hipocondria, com terapia cognitiva comportamental.

A consulta médica deve ser soberana, de acordo com o supervisor do instituto. "O paciente não pode procurar nada sem avaliação clínica médica, senão é induzido a comprar remédios que podem fazer mal e ocultar uma doença mais grave."

Conclusões precipitadas

O termo cybercondria vem de "cyber" e "chondria", do grego, que se refere a desordem obsessiva. Foi criado em 2000, para designar a prática de chegar a conclusões precipitadas após a pesquisa de um sintoma de saúde.

Passou a ser mais usado em 2002, quando uma pesquisa da Microsoft, que ouviu 1 milhão de usuários da rede para melhorar seu sistema de buscas, chamou os cybercondríacos de "buscadores de saúde".

O estudo sugeriu que o autodiagnóstico obtido por mecanismos de busca da web levava as pessoas a crer que sofriam de doenças graves.

Cerca de 2% de todas as consultas feitas na rede foram relacionadas à saúde e cerca de 250 mil usuários recorreram ao menos uma vez a medicamentos. Além disso, um terço dos entrevistados realizou buscas para explorar doenças graves.

A "Pew Internet & American Life Project" concluiu que 6 milhões de pessoas entravam todo dia na rede atrás de conselhos médicos.

Paralelamente, a empresa ouviu 515 funcionários e levantou que as buscas na internet têm o potencial de aumentar a ansiedade das pessoas sem formação médica.

Cerca da metade interrompeu o trabalho para pesquisar doenças graves na rede ao menos uma vez, e um terço dos profissionais viu seu nível de ansiedade crescer ao aprofundar as buscas.

> Redes sociais.

Comentários