Enem do servidor federal vai oferecer em 2024 mais de 7 mil vagas

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A partir de 2024 haverá uma prova nacional unificando o processo de seleção de servidores federais, um Enem dos Concursos”, como o objetivo de facilitar o acesso da população às provas, inclusive em cidades do interior. A primeira prova será realizada no dia 24 de fevereiro.  A estimativa de vagas é de mais 7 mil no primeiro ano do concurso, Provas serão simultaneamente em 179 cidades das 5 regiões Cada ministério poderá decidir se vai aderir a esse modelo ou fazer os concursos por conta própria. O exame acontecerá ao mesmo tempo em 179 municípios, sendo 39 na Região Norte, 50 no Nordeste, 18 no Centro-Oeste, 49 no Sudeste e 23 no Sul. Haverá duas provas no mesmo dia. Uma com questões objetivas, comum a todos, e outra com perguntas específicas e dissertativas, divididas por blocos temáticos. Os candidatos para Trabalho e Previdência farão a mesma segunda prova, por exemplo; já os candidatos para Administração e Finanças Públicas, outra. As vagas abrangem os seguintes setores: Administr

Reyes, o 2º das Farc, não saía da frente do computador

> Fonte: Revista Fórum.

por Anselmo Massad, 4 de Março de 2008

O jornalista Jacques Gomes Filho, autor da última entrevista com Raúl Reyes, conta bastidores da entrevista. Segundo ele, o número dois das Farc não saía da frente do polêmico comutador portátil, que pode conter dados relevantes sobre a relação com governos e associações.

Correspondente do SBT em Buenos Aires, Gomes Filho revela que passou quatro meses negociando a entrevista. Conta que o comandante mostrou grande preocupação com a imagem das Farc. “Ele me permitia filmá-lo ali trabalhando – e parecia até gostar de passar essa imagem ‘atualizada’”, conta.

O mesmo tipo de preocupação surgiu na restrição à filmagem dos guerrilheiros antes da chegada dos uniformes e da montagem do cenário por uma das encarregadas pela comunicação.

Leia a íntegra.


Fórum – Como você recebeu a notícia da morte de Raúl Reyes junto de outros 16 guerrilheiros?

Jacques Gomes Filho – A primeira reação foi relativizar toda a falsa sensação de segurança que, há quatro meses, sentia ao lado dele. Conheci Raúl Reyes na fronteira da Colômbia com o Equador, bem próximo ao local onde ele foi morto. Passei quatro dias no acampamento da guarda pessoal de Reyes, composta por cerca de 50 combatentes. Fui sempre bem tratado por todos eles, comia da mesma comida e dormia muito próximo a sua barraca na selva – medidas de segurança ordenadas pelo o próprio Reyes. Aparentemente, não tinha motivo algum para me preocupar. Por incrível que possa parecer, a presença do número dois das Farc me dava ainda mais confiança. Afinal, pensava eu, o cara é um dos mais procurados do mundo, vive há 30 anos na selva e escapou de dezenas de atentados, ele sabe se proteger. Lembro do “nome de guerra” e da fisionomia de boa parte dos guerrilheiros com quem convivi. Imaginar que aquela “unidade”' das FARC foi bombardeada e que 17 deles morreram me assusta. E me faz ver que a guerra está mais perto do que eu imaginava.

Fórum – Como foi o trabalho para se aproximar das Farc? Houve troca de correspondências diretamente com Raúl Reyes?

Gomes Filho – Os contatos se prolongaram por quase quatro meses. Basicamente, ligava para algumas fontes e mandava e-mails. Não me comuniquei diretamente com Raúl Reyes durante essa aproximação, mas sabia que ele estava por trás de todas as decisões que me eram apresentadas. Por vezes tive de me encontrar com “emissários”, que faziam extensas listas de perguntas e colocações. Esses contatos foram muito importantes para meu trabalho, porque, em geral, eram pessoas da militância de esquerda que me ajudaram a entender não apenas as motivações das Farc, mas também a dimensão da guerra que acontece na Colômbia.

Fórum – Durante as caminhadas pela floresta ou no acampamento, houve momentos de tensão ou risco de conflitos com o exército colombiano?

Gomes Filho – A chegada foi o momento mais arriscado. Cheguei na hora e no local combinados – de onde supostamente seria levado para o acampamento. Mas em vez de guerrilheiros, dei de cara com o Exército. Eram um sinal claro de que havia conflitos com as Farc. Antes de partir, havia sido reiteradamente avisado pelas minhas fontes que a cobertura dependia das condições em que se encontraria a área. Se houvesse qualquer risco para o “camarada”, eu teria de abortar a cobertura. Era uma idéia que me atormentava. Por sorte, a orientação que tive no local foi de esperar. Passei quatro dias sendo levado de uma casa a outra, para tentar despistar eventuais olheiros da inteligência do governo colombiano. Até que, numa manhã, chegou um casal completamente enlameado. Trocaram algumas palavras com os donos da casa e me perguntaram se estava pronto. Subimos um rio numa lancha rápida por quase três horas. Parando apenas duas vezes: uma para reabastecer e outra para nos esconder na mata ciliar dos helicópteros que sobrevoavam a área. Passei a noite em outra casa. E na manhã seguinte, uma jovem veio me buscar. Caminhamos pelo menos duas horas até chegar ao acampamento. Os helicópteros pareciam nos seguir durante toda a trilha. Eles passavam tão próximos à copa das árvores que era difícil acreditar que não podia nos ver. A guia, inclusive, chegou a me perguntar se não trazia nenhum equipamento ligado. Aquele clima de conflito no ar persistiu ainda dois dias depois de minha chegada. Num dos momentos de maior tensão, Raúl Reyes chegou a ordenar “bater em retirada”. O acampamento foi desmontado em 40 minutos e todos arrumamos nossas mochilas e ficamos prontos para partir. Mas por sorte isso não foi preciso.

Fórum: Ele fez alguma menção ao que continha o computador? Que informações poderiam estar armazenadas?

Gomes Filho – Não fez menção alguma. Ele me permitia filmá-lo ali trabalhando – e parecia até gostar de passar essa imagem “atualizada”. Mas nunca me deu abertura suficiente para me aproximar e saber o que escrevia ou analisava na máquina. Uma coisa, sim, me chamou muito a atenção: Raúl Reyes passava o dia inteiro diante do computador.

Fórum – Qual era a relação dos outros militantes das Farc com Reyes?

Gomes Filho – De total submissão. A hierarquia e a disciplina militar estão muito presentes na organização. Raúl Reyes era o comandante daquela “unidade” e se comportava como tal. Durante minha estadia lá, não houve momento de descontração que o permitisse conversar abertamente ou rir com os combatentes. Ele apenas se relacionava com os encarregados da comunicação e do comando do acampamento.

Fórum – Durante a entrevista, dois soldados ficaram postados de pé, com armas em punho, assim como o próprio Reyes. Na sua visão, isso tinha intenção de intimidá-lo?

Gomes Filho – Não era nada pessoal. Achei ainda mais intimidador a presença do fusil M16 de Raúl Reyes durante a entrevista. Aquela cena com os guerrilheiros ao fundo foi armada por uma das encarregadas da comunicação. Entendi aquilo como mais uma estratégia de marketing das FARC, que lutam para sair da clandestinidade e passar ao mundo uma imagem de organização bem estruturada que merece ser classificada como força beligerante. Os guerrilheiros do quadro eram os mais bem-vestidos e alinhados daquele acampamento.

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