Como o fundador dos Legionários de Cristo construiu o seu império
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por Jason Berry, do National Catholic Report
Em 1946, Roma, após a II Guerra Mundial, se encontrava em má situação econômica, quando um obscuro jovem padre, com bolsos bem fundos, chegou buscando encontros com oficiais do Vaticano. O descendente de uma aristocracia provincial mexicana, Marcial Maciel Degollado fora padre por apenas dois anos, mas, quando um fotógrafo filmou sua ordenação, ele já estava dirigindo sua própria ordem religiosa, a Legião de Cristo.
Maciel fora a Roma via Madri, Espanha, onde ele buscou bolsas de estudo que o governo de Franco oferecera para seminaristas latino-americanos estudarem na Espanha. O ministro do exterior da Espanha, Alberto Martín Artajo, lhe disse que ele necessitava da aprovação do Vaticano para os “estudantes apostólicos” poderem ser qualificados.
Com fundos de várias das mais ricas famílias do México e de seu presidente, Miguel Alemán Valdés, ele disputou um encontro com Clemente Micara, um cardeal recém nomeado e veterano diplomata papal. Micara, 67 anos, estava obsessionado pela reconstrução de Roma. Maciel, alto e magro, de cabelos castanhos e olhos fulgurantes, não falava italiano, mas Micara falava espanhol. Maciel deu a Micara 10.000 dólares, “uma soma considerável numa cidade abalada pela guerra”, disse um padre bem informado.
A Legião de Cristo. Uma história, ditada por Maciel e publicada em 2004 por um impresso da Legião, não menciona o pagamento a Micara, mas o livro diz que Maciel viajou com “um documento confidencial e uma soma de dinheiro” do núncio papal do México para ser entregue ao Cardeal Nicola Canali, governador da cidade do Vaticano. Os dois cardeais ajudaram Maciel a obter uma audiência com o Papa Pio XII, que se mostrou favorável. Maciel retornou a Madri com cartas de aprovação. Em agosto de 1946, Maciel e 34 estudantes apostólicos viajaram de navio do México para a Espanha.
Por que quereria a Santa Sé, com canais estabelecidos para transmitir documentos, confiar material sensitivo a um padre sem passaporte diplomático? A outra parte da história – “uma soma de dinheiro” – foi o sinal de coisas que viriam a acontecer.
Marcel forçou todos os legionários a fazerem votos privados e jamais falar mal de Maciel ou de qualquer superior, e de denunciar ao seu superior qualquer um que o fizesse. Os votos garantir seu culto de personalidade. Juan Vaca e sete outras primeiras vítimas de Maciel que primeiro falar publicamente em 1997, no Harford Courant Report por Gerald Renner e seu escritor, prestaram contas por escrito de como, na Espanha e em Roma, nos anos de 1950, eles viram Maciel injetar-se pessoalmente com um analgésico de morfina chamado dolantin, como a droga era chamada na época. Em 1956, um Maciel picado entrou em Roma no Hospital Salvator Mundi. O cardeal Valério Valeri, um antigo diplomata e prefeito da Congregação dos Religiosos, ficou furioso devido a cartas de um seminarista mais antigo da Cidade do México que viu Maciel se auto-injetar e lastimou sua conduta demasiado afetuosa com meninos. O padre que dirigiu a universidade da Legião também esteve preocupado com o uso de drogas por Maciel e sua conduta com jovens. Valeri suspendeu Maciel e destinou padres carmelitas para assumirem o controle da casa da Legião. Eles começaram interrogando os meninos que admitiram, anos mais tarde, como eles mentiram para proteger a ele e a si próprios. “Nós não sabíamos o que fazer”, refletiu Vaca, agora um professor de psicologia em Nova York. “Nossas vidas podiam ter terminado”. Eles temeram que os padres investigadores os considerassem pecadores.
Valeri não publicou a suspensão de Maciel. Maciel viajou entre a Espanha e a América Latina juntando dinheiro para um grande projeto subterrâneo em Roma: a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe. Maciel teve sua chance em 1959, quando Pio XII morreu. Micara, então vigário de Roma, assinou uma ordem reintegrando Maciel – algo que, no interregno entre papas, ele não estava autorizado a fazer. A lei canônica estabelece normas oficiais sobre suspensão no interregno. Onde estiveram Valeri e outras autoridades ofendidas com o comportamento de Maciel? Que capital tinham para gastar com o novo pontífice, desafiando Micara sobre um padre drogado com um vício por meninos, mas com recursos para construir uma basílica? Maciel foi remido por uma ordem ilegítima de um cardeal ao qual 13 anos antes ele dera 10.000 dólares, segundo um padre com acesso às fileiras da Legião. Micara, que benzeu a pedra fundamental, desejava recursos para a infra-estrutura. E Maciel tinha o dinheiro.
Como os soldados norte-americanos que sofreram lavagem cerebral por comunistas chineses no filme da Guerra Fria, “O candidato da Manchúria”, os seminaristas do México carregavam feridas traumáticas da tirania psicológica de Maciel durante décadas. Mas, diversamente dos caracteres do filme, as vítimas de Maciel jamais esqueceram. Em 1998, José Barba, um professor de colégio da cidade do México e antigo seminarista da Legião junto com Vaca, foi a Roma com outra das vítimas originais e ingressou com uma apelação segundo a lei canônica na Congregação para a Doutrina da Fé, então sob o Cardeal Joseph Ratzinger, requerendo uma intervenção do Vaticano contra Maciel.
Mulheres abastadas
A estratégia financeira visou as viúvas de homens abastados. Uma benfeitora crucial foiFlora Barragán, viúva de um industrialista da cidade de Monterrey, produtora de aço do México. Após a morte de Barragán, sua irmã disse a Barba que ela doara 50 milhões de dólares à Legião. Barba, que ensina no Instituto Técnico Autônomo do México, disse que ele não podia verificar o valor de 50 milhões de dólares, mas disse que “os recursos de Flora eram substanciais”.
Barba ingressou na Legião em 1948, aos 11 anos, e a deixou em 1962. Ele obteve um doutorado em Harvard em literatura Latino-americana..
“Maciel tinha o hábito de construir coisas em dinheiro vivo”, contou Barba à NCR durante uma entrevista de 4 de março na Cidade do México.
Barba continuou: Maciel tinha 27 anos quando ele adquiriu a propriedade [primeiro seminário]. Em 1950 ele começou a construção no Instituto Cumbres, a primeira escola preparatória, na Cidade do México, a terra para a qual contribuiu Flora. Naquele verão ele também inaugurou o Colégio Máximo em Roma. Ele tinha 30 anos. Em 1953 ele tentou começar a construção de um colégio em Salamanca. “Eu estava lá”, disse Barba. “O bispo estava doente e não pôde lançar a pedra fundamental. Ele começou a obra em 1954 e a completou cinco anos mais tarde. Também foi em 1954 que ele [Maciel] comprou o antigo SPA em Ontenada, Espanha, que tinha seu próprio lago, para outro seminário. De novo pagou à vista. Padre Gregório López, um padre legionário, me contou que ele entregou o dinheiro, embrulhado em papel fino, a Leopoldo Corinez, “que representou a família que possuía a propriedade. “Não tenho noção da soma exata”.
Em 1958 ele construiu um seminário em Salamanca, Espanha, graças à generosidade de Josefita Pérez Jiménez, a irmã de antigo ditador venezuelano.
Maciel colheu estáveis dividendos em Monterrey com as famílias Garza-Sada. A dinastia data de 1890, quando Isaac Garza e seu cunhado Francisco Sada, abriram uma cervejaria. Os filhos de Isaac, Eugenio e Roberto Garza Sada, ambos graduados pelo Massachusetts Institute of Technology, construiram uma fábrica engarrafadora em 1943. Quando eles se expandiram para outras indústrias, os irmãos Garza fundaram uma universidade, TEC – o Instituto Técnico de Estudos Superiores em Monterrey.
Maciel fundou escolas privadas em Monterrey, uma para meninos, outra para meninas. Ele exportou para a América um modelo de escola preparatória para atrair famílias de posses que gostariam de associar-se à Regnum Christi, que organizou grupos de estudo para discutir as cartas de Maciel. Celibatários leigos, o nível mais alto dos membros da Regnum Christi, vivem em comunidades e trabalham incansavelmente na arrecadação de fundos. O Web site www.Life-after-rc.com circulou por um antigo líder da Regnum Christi, documenta as dinâmicas de culto [Cult-like dynamics] com mensagens de pessoas que perderam o antigo pendor por “o Movimento”.
Monterrey foi o trampolim financeiro de Maciel. Depois que Dionísio Garza Garnzafaleceu em 1991 sua esposa e vários filhos fizeram doações à Legião. Reportagens da mídia compararam a fortuna da família Garza àquela dos Rockefeller.
“Uma de minhas tias deu a Maciel uma casa”, disse Roberta Garza, 44 anos, a mais jovem das oito irmãs, e editora do jornal Milenio na Cidade do México. Numa entrevista aos 2 de março no México, ela descreveu o falecido pai como um “gentleman vitoriano conservador, incrivelmente bem amado. Nossa família raramente via TV. Nós nos reuníamos após o jantar e conversávamos”.
Após a morte do patriarca, Maciel cortejou a viúva para obter recursos. “Minha mãe lhe deu jóias e um monte de dinheiro”, disse Roberta Garza. Sua mãe, agora bastante idosa, “jamais soube de seus meninos. Ele visou mulheres no México de certa classe social às quais não se permitia trabalhar. Eu tive que batalhar para ir ao colégio. Para mulheres cultas que eram geradas, Maciel oferecia um bom objetivo.”
Roberta Garza estudou como interna em escolas católicas na França e Alemanha, lendo vorazmente, “desenvolvendo uma inteligência crítica que me trouxe problemas no retorno a Monterrey.” Ela retornou em 1980 para uma universidade da Legião, mas achou-a “rígida, extremamente tradicional, e não analítica. Uma das minhas cunhadas tinha uma irmã que não estudava inglês. Ela se queixou ao padre legionário. Ele imediatamente lhe disse: ‘O juízo final não será em inglês’.
“Eles nos adestravam para o Regnum Christi – o Movimento. Se tua família tinha dinheiro, poder, influência, eles te desejavam. Eles me diziam, ‘Deus te deu tudo, tu deves restituir combatendo as forças do mal’. ... Todo o seu discurso era esse paraíso de retidão moral. Após a França, onde eu podia pensar livremente, eu chorava cada noite, pensando essa é minha família, meu lar, eu não quero ficar aqui. Eu quase sofri um colapso.”
Duas de suas irmãs ingressaram no Movimento. Paulina, agora com seus 50, é uma mulher consagrada em Roma ao Regnum Christi. Um irmão, Pe. Luíw Garza Medina, se graduou pela Stanford University na Califórnia em 1978, com grau em engenharia industrial, e ingressou na Legião. Aos 32 ele se tornou vigário geral, a segunda mais alta posição. Através de duas irmãs, Maciel assegurou um fluxo contínuo de dinheiro da família. Padre Garza doou 3 milhões de dólares de sua herança à Legião, de acordo com um colega da época. Numa troca de e-mails, Padre Garza jamais confirmou nem negou o total da doação.
Hoje, a família Garza está em má situação. “Um dos meus irmãos odeia a Legião mais do que eu”, disse Roberta Garza, que abandonou a religião após o colégio.
O irmão mais velho, Dionísio Garza Medina – xará paterno e CEO da Alfa, a multinacional fundada pelo avô – contou ao The Wall Street Journal: “A Legião é a única multinacional mexicana no mundo da religião”.
Quando os irmãos Garza se reúnem como família, eles usam boas maneiras para evitar discutir a Legião. No Nata de 2009, disse ela, Luis baixou a cabeça e pareceu a Roberta profundamente deprimido.
Numa troca de diversos e-mails, Padre Garza recusou responder a perguntas.
O ponto alto do escândalo
A Cidade do México tornou-se o ponto alto no aprofundamento do escândalo da Legião. O catalisador em ambas as coberturas da mídia e a saga legal é o legista José Bonilla.
A revolução em sua vida começou quando, em 2006, ele processou a Legião por abuso sexual de seu filho de 5 anos por um professor leigo na Oxford School da Legião na Cidade do México. O garoto contou à sua mãe que um professor mordeu seu pênis. Após encaminhar a criança a cuidados médicos, Bonilla e sua esposa, Lisseet Aldrete, também advogada, se encontraram com o diretor. Ele disse que o Diretor não moveu ação. Eles moveram ação criminal contra o professor, Joaquín Francisco Mondragón Rebollo, que desapareceu e é fugitivo da justiça. A família venceu o julgamento inicial numa ação civil contra a escola da Legião, disse Bonilla.
Bonilla, 50 anos, obteve seu bacharelado em direito da Universidade Jesuíta Ibero-Americana na Cidade do México. Sentado num locutório ensolarado, ele falou carinhosamente de seu filho (o menor de cinco). O blog de Bonilla –conlajusticia.wordpress.com – é uma escavação moral da Legião. “O blog”, disse ele “é como Raúl me encontrou”.
Raúl – José Raúl González Lara, 29 anos, o filho do meio de Maciel – solicitou a Bonilla uma ajuda legal contra a Legião. Após a morte de seu pai, alguns padres de Anáhuac, a universidade líder na Cidade do México, guiaram Raúl a uma crédito em conta que Maciel supostamente estabelecera para a família, mas ela estava sem saldo, disse Bonilla.
“A Legião deu a Raúl uma cópia de um crédito que foi retirado por Norma [a filha na Espanha], “disse Bonilla. Ele acredita que os oficiais da Legião no México estavam tentando fazer as meio-irmãs entrar num conflito legal contra os bens de Maciel. Os esforços de Raúl por um acordo familiar fracassaram.
Aos 3 de março a família deu uma entrevista de uma hora na Rádio MVS com Carmen Aristegui, que também mantém um show na emissora CNN do México. Aristegui ganhou um Prêmio Maria Moors Cabot da Columbia University em 2008. (Divulgação: Aristegui fez a narração espanhola para meu filme “Votos do silêncio.”). O programa radiofônico, também em vídeo e postado no YouTube, foi noticiário internacional. Raúl; sua mãe, Blanca Lara Gutiérrez; e seu irmão, Omar, 33 anos, falaram traumaticamente da vida com Maciel.
A entrevista de Bonilla acrescenta detalhes da história da família.
Em 1977, Blanca, de 19 anos, trabalhava em Tijuana como doméstica quando encontrou “Raúl Rivas,”, de 57 anos, um auto-descrito viúvo e detetive internacional para companhias petrolíferas. Apesar de suas viagens, ele a namorou construindo uma casa em Cuernavaca, uma cidade colonial fora da Cidade do México. Enquanto não casaram, ele se tornou pai adotivo de seu filho de 3 anos de idade, Omar, de um relacionamento anterior. Bonilla disse que o documento de adoção e os certificados de nascimento de seus filhos naturais, Raúl e Christina, agora com 17 anos, são “legalmente uma confusão. Maciel constituiu seu nome e o deu aos meninos mais jovens.” Ele esteve longe por longos períodos quando os meninos cresceram. Mas Blanca Gutiérrez, que cresceu pobre, tinha casa e renda. “Eu o amei muitíssimo”, contou ela a Aristegui. “Eu jamais suspeitei”.
No programa, Raúl disse raivoso: “Quando eu tinha sete anos, eu deitei com ele como qualquer menino, qualquer filho com seu pai. Ele tirou minhas calças e procurou me estuprar”.
Mantendo-se anônimo em Cuernavaca, cuidadoso para não ser fotografado, “Rivas” começou levando Omar e Raúl em viagens pela Europa, molestando-os entre as idades de 8 e 14 anos. “Como adolescentes eles começaram a deixá-lo”, disse Bonilla.
Alguns anos depois de comprar a casa para Blanca, Maciel procurou Norma Hilda Baños, em Acapulco. Em 1987, com 26 anos, ela teve sua filha, também chamada Norma Hilda. O pouco que se sabe deles vem dos repórteres espanhóis Idoia Sota eJosé M. Vidal, que os localizou num prédio de apartamentos em Madri, concordando com breves comentários para um artigo, ano passado, em El Mundo. “Quando eu encontrei este homem eu tinha menos idade”, a mãe, Norma Hilda Baños, identificada tendo 48, é citada. “Jamais minha irmã nem eu soubemos o que era realmente esse homem até o final”. A irmã “foi abusada por seu pai, Maciel”, a mãe é citada em El Mundo “Ela sofe de um trauma severo de sua infância e eu não creio que ela jamais vai superá-lo”.
O artigo disse que Maciel deixou a Baños “duas casas em seu nome no exclusivo bairro de Madri onde ela vive e três [outros] lugares, todos avaliados em aproximadamente 2 milhões de euros.
De acordo com os repórteres espanhóis, Maciel também teve três filhos com outra mulher mexicana, que vive agora na Suíça, o que integraria seis filhos naturais de três mulheres, e o adotivo Omar é um sétimo filho.
Quando Raúl tinha 6 anos, Maciel o enviou a uma escola interna na Irlanda por vários anos. Em 1991, quando Raúl tinha 1º anos e Norma 4, Maciel os levou ao Vaticano; eles receberam a comunhão do Papa João Paulo II, segundo Bonilla. Seu Web site tem fotos das duas crianças dando a mão a um Guarda Suíço. Diversos padres e bispos levaram crianças para encontrar o papa. Mais interessante é como Maciel os levou para receber a comunhão. Apresentar seus filhos a João Paulo sugere um arrojado cinismo na conduta de Maciel, jogando com sua imagem pública como padre exibindo a prole de sua vida privada, colocando ambas as suas vidas em simultânea exposição.
Na América, em geral a mídia ignorou a investigação corrente de 23 de fevereiro de 1997, até o escândalo de Boston, de 2002. Mas, no México, um jornal cotidiano publicou uma série e uma TV a cabo fez um comentário. Na primavera de 1997, Maciel chamou Raúl, de 16 anos, e lhe disse para comprar todas as cópias disponíveis do magazine Contenido e livrar-se deles. No cabeçalho Raúl viu seu pai num colarinho romano com um nome diferente. Os meninos mais velhos recusaram deixar Christian, de 4 anos, sozinho com seu pai. Quando Maciel ficou mais distante, ele ainda os apoiou financeiramente, disse Bonilla.
Por essa época, Maciel levou Norma e sua Normita de 10 anos à Espanha. Dentro de um ano, aproximadamente, ele enviou Raúl para viver com eles por vários meses, quando o menino adolescente foi a um psicoterapeuta para sessões causadas por incesto e descoberta de seu pai-como-Pai.
Ambas as famílias tiveram que manter segredo para sobrevivência financeira.
Alguns anos mais tarde, disse o advogado Bonilla, Normita, a irmã, estudou na Universidade Anáhuac na Cidade do México. “A Legião sabia onde ela estava”, insistiu Bonilla.
“Não sei se isso é verdade ou não”, disse o defensor da Legião Jim Fair. “Não gostaríamos de comentar sobre antigos estudantes, se eles foram antigos estudantes. Você deveria obter isso dela”.
Um dia após a entrevista radiofônica da família de Riva, a Legião liberou uma carta de 5 de janeiro que recusava a demanda de Raul solicitando 26 milhões de dólares, pelos quais ele supostamente prometia silêncio em retorno. Bonilla recusou como conselheiro legal, alegando ética profissional em relação a um cliente que barganhava silêncio por dinheiro. Ele tem 70 outros clientes que sofreram abuso ou tem filhos que sofreram abuso, não só por figuras religiosas. Quando a Legião se engaja num jogo financeiro com Raúl, sua demanda para a compensação da família se tornou uma questão vaticana. Em novembro, Bonilla e sua família se encontraram duas vezes com o Bispo Ricardo Watty, o visitador mexicano na investigação da Legião. “Eu me encontrei duas vezes com Watty”, contou Bonilla ao NCR. “Ele ficou muito preocupado com as crianças sem recurso. Ele procurou conciliar as partes para resolver isso. Ele lhe disse que tinha instruções do papa ou do[Secretário de Estado do Vaticano Cardeal Tarcisio] Bertone para resolver o problema”.
Sodano, o patrono em Roma
A figura central do plano de Maciel para assegurar seu legado em Roma foi a universidade da Legião, Regina Apostorum, onde a professora de direito de Harward Mary Ann Glendon, antiga embaixadora para o Vaticano, dava aulas. Ela foi consultora para a Legião, que se expandiu na América com a Universidade de Sacramento na Califórnia.
O cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano de 1990 a 2006, foi peça pivô no crescimento da universidade em Roma.
Maciel e Sodano forjaram uma relação amistosa no Chile nos anos de 1980, durante a ditadura de Augusto Pinochet. A Legião necessitava da permissão do cardeal Raúl Silva Henríquez para funcionar. Assombrado com as torturas do regime e a abdução de pessoas, Silva tinha uma relação tensa com Sodano, que como núncio papal apareceu na TV em apoio a Pinochet. Diversos bispos chilenos imploraram a Silva para não admitir o grupo de Maciel, que teve péssima reputação como “millonarios de Cristo” por sua obsessão na obtenção de fundos. “Numa sociedade polarizada como a do Chile”, escreveram Andrea Insunza e Javier Ortega num livro sobre a Legião no Chile, “os Legionários encontraram um aliado chave: o núncio apostólico, Angelo Sodano.” Silva aprovou a presença dos Legionários no Chile.
De volta a Roma em 1989, Sodano, preparando-se para ser Secretário de Estado, tomou aulas de inglês num centro da Legião em Dublin, na Irlanda. Ele tirou férias numa vila da Legião no Sul da Itália. Como honrado hóspede nos jantares e banquetes da Legião, Sodano se tornou o maior defensor e patrocinador de Maciel. Glenn Favreau, um advogado de Washington, D.C. e antigo Legionário em Roma, disse: “Sodano interveio com oficiais italianos a fim de obter zoneamento para construir a universidade”, num platô arborizado no Oeste de Roma. Maciel contratou o sobrinho de Sodano Andrea Sodanom, como consultor da construção. Ateneu Pontifício Regina Apostolorum é o nome do complexo.
Mas os Legionários, inspecionando o projeto, queixaram-se a Maciel que o trabalho de Andrea Sodano estava atrasado e mal feito e estavam relutantes em pagar suas faturas. Maciel lhes gritou: “Pagai-lhe! Pagai-lhe!”
E Andrea Sodano foi pago.
Em 2008, um destacado homem de negócios italianom, Raffaelo Follieri, foi denunciado em Nova York por fraude e lavagem de dinheiro para seu negócio que provocou o envolvimento de propriedades e paróquias da Igreja para revenda comercial. Andrea Sodano era o vice-presidente do Grupo Follieri. O Cardeal Sodano participou da festa de lançamento da empresa em Nova York em 2004, segundo reportagem da imprensa. Quando a NCR noticiou aos 3 de março de 2006, a literatura da empresa trombeteou seu “profundo compromisso com a Igreja católica e seu amplo relacionamento com membros mais destacados da hierarquia do Vaticano.”
Depois que a empresa assegurou um fundo maior da empresa de desenvolvimento Yucaipa do bilionário Ron Burkle, Follieri gastou loucamente no seu romance relâmpago com a estrela de cinema Anne Hathaway. Quando a parceria Follieri-Yucaipaadquiriu propriedades, Follieri enviou pagamentos ao escritório de Andrea Sodano na Itália por transferência bancária.
Documentos obtidos pela FBI mostram que Follieri fabricou faturas pré-datadas de Sodano para justificar um fluxo de pagamentos de dois meses em 2005 que Follieri já obtivera dos investidores. Estes incluíam: 75.000 dólares aos 22 de agosto, para “Serviços de Engenharia”; aos 12 de setembro uma fatura para 15.000 dólares por trabalho em Atlantic City, N.J., e 80.000 dólares no Parque Orlando na arquidiocese de Chicago; aos 21 de outubro, para 70.000 dólares em Canion City (sem constar um estado na fatura); outros 50.000 dólares para o Parque Orlando; e 75.000 dólares para não especificados “Serviços de Engenharia”, totalizando um lindo pecúlio de 225.000 dólares nesse único dia. Nenhuma das faturas de uma página tinham um parágrafo sobre o trabalho feito.
Nas chamadas da conferência semanal com a empresa de Burkle, Follieri aumentou sua exigência para fundos a fim de pagar Sodano, insistindo que o Vaticano necessitava dos informes de engenharia no sentido de garantir aprovação para as vendas de propriedades da Igreja. Yucaipa pagou 800.000 dólares para este fim, com Follieri providenciando fabricadas e pré-datadas faturas para documentar pagamentos feitos para este fim a Andrea Sodano.
Aos 8 de março de 2006 – dois meses antes que Maciel fosse banido do sacerdócio – o Cardeal Sodano enviou uma carta de queixa a Follieri. “Sinto ser meu dever contar-lhe quão perturbado estou”, escreveu, “por ouvir que sua empresa continua se apresentando como tendo laços com ‘o Vaticano’, devido ao fato que meu sobrinho, Andrea, procurou em certa ocasião favorecê-los com serviços de consulta profissional. Não sei como esse desgastante mal-entendido poderia ter ocorrido, mas agora é necessário evitar tal confusão no futuro. Por isso, apelo para vossa sensibilidade no sentido de serem cuidados a respeito desse assunto. Também gostaria de informar meu sobrinho Andrea, bem como qualquer outro que me solicitou informação referente a sua empresa. Colho esta oportunidade para enviar-lhe meus cumprimentos.”
A carta chegou exatamente após a reportagem da NCR feita por Joe Feuerherd que referiu uma solicitação religiosa oficial não mencionada ao Grupo Follieri, dizendo, “Essa coisa está cheirando”.
Quando Andrea Sodano esteve promovendo o negócio, o Cardeal Sodano – tendo levado seu sagrado ofício a apertos de mão e convencido potenciais financiadores no lançamento do Grupo Follieri – começou a dar para trás. Follieri começou gabando a potenciais investidores que ele era o principal chefe financeiro do Vaticano. Não obstante, quatro meses após a carta do cardeal, Raffaello e Andrea Sodano voaram à América Latina numa viagem de exploração de recursos. Follieri repassou um cheque de 25.000 dólares a um arcebispo e um cheque de 85.000 dólares a outro arcebispo. “Os recebedores dessas doações não sabiam que Follieri roubou o dinheiro para lhes dar”, estabelece um memorando judicial da FBI no caso Follieri.
N primavera de 2007, Burkle quis ver os relatórios de engenharia. Follieri fez uma secretária ficar a noite toda escrevendo relatórios, que ele pré-datou e empurrou goela abaixo ao pessoal de Burkle.
“Os relatórios eram em italiano”, explica o agente da FBI Theodore Cacioppi. “Cada um tinha de duas a cinco páginas. Nenhum deles continha qualquer desenho esquemático, técnico, diagramas ou algo que parecesse relação com engenharia”. Os relatórios “eram em geral sem valor, não refletiam nenhum trabalho de engenharia e certamente não expressavam o valor de 800.000 dólares.
A Companhia Yucaipo de Burkle tinha seus próprios investidores, notadamente oCommon Retirement Fund de Nova York, o Teacher-se Retirement Fund daCalifórnia e o Public Employees’ Retirement Fund da Califórnia. Yucaipo requereu a Follieri 1.3 milhões dólares. Follieri bracejou para pagar a parceria, mas foi indiciado.
Aos 23 de outubro de 2008, ele foi julgado culpado de 14 crimes por fraude, lavagem de dinheiro e conspiração e agora cumpre 54 meses numa prisão federal.
“Nós acreditamos que o Studio Sodano (nome corporativo de Andrea) incidiu em dinheiro fraudulentamente adquirido”, afirmou Cacioppi. “Consideramos essas pessoas co-conspiradores não indiciados”.
Cacioppi prosseguiu: “Não precisamos pôr essas pessoas contra a parede. Buscamos intimações do Departamento de Estado porque eles não estavam inclinados a falar conosco. Como matéria de alocação de recursos não valia a pena tentar envolvê-los.
Andea Solano voltara a salvo à Itália na época da prisão de Follieri. O documento governamental que o acusa de receber pagamentos também diz que o próprio Vaticano recebeu “doações” do esquema de Follieri, uma asserção levanta uma questão sobre o julgamento do Cardeal Sodano. Como se explica sua confiança num homem enbusteiro como Follieri?
O memorandum da sentença governamental contra Follieri no na Procuradoria dos EE.UU, Distrito Sul de Nova York, também explicou: “Follieri criou as falsas impressões que ele tinha laços com o Vaticano, o que o capacitou a obter propriedades da Igreja com valores inferiores de mercado, através de sua relação com Andrea Sodano, o sobrinho (“Sobrinho”) do então Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Angelo Sodano... e fazendo doações não autorizadas ao Vaticano com dinheiro de investidor. Follieri abusou de fundos de investimento para pagar o Sobrinho por serviços de ‘engenharia’ que o Sobrinho jamais realizou, de modo que o Sobrinho pode viajar com Follieri ao visitar dignitários da Igreja e ajudar Follieri a obter acesso aos porões do Vaticano. Foi através dessa conexão que Follieri foi capaz de conseguir um dos serviços do Papa, junto com diversos outros, fazer sua foto com o Papa... mostrar os jardins privados do Vaticano aos amigos e associados de Follieri e arranjar visitas com guias a um museu do Vaticano.”
O memorando da sentença continua: “Follieri também representou falsamente que ele necessitava mais de 800.000 dólares para pagar as faturas de engenharia preparadas pelo Sobrinho. Follieri alegou que o Vaticano precisava rever essas faturas de engenharia antes que o Vaticano tomasse qualquer decisão sobre a venda de propriedades a Follieri.”
Enquanto Follieri encontrou um amigo em Andrea Sodano, Maciel encontrou um no tio e Sodano, o cardeal. Mas, a alocação de recursos de Maciel ficou envolvida em problemas com a construção da universidade Regina Apostolorum. Ele estava faminto pela aprovação do Vaticano para o reconhecimento para uma academia plenamente pontifícia, para colocar a recém criada universidade em igual posição com as muito mais antigas universidades Lateranense e Gregoriana em Roma. Para garantir essa posição, fontes disseram à NCR, a Legião ofereceu em 1999 uma Mercedes Benz ao falecido cardeal Pio Laghi, que foi prefeito da Congregação para a Educação Católica (e antes embaixador nos Estados Unidos). Assustado, Laghi rejeitou a oferta, segundo um padre que testemunhou a troca.
O sucessor de Laghim, o cardeal polonês Zenon Grocholewski também recusou a autorização. O Cardeal Sodano assegurou um status abaixo do prestigioso nível que Maciel e a Legião desejavam.
Maciel faleceu num drama surrealista onde as peças de sua vida convergiram com uma tremenda queda. Em fins de janeiro de 2008 ele esteve num hospital em Miami, segundo uma reportagem de 31 de janeiro de 2010, feita pelos repórteres Sota e Vidal de El Mundo. Além disso, o artigo (disponível em inglês em exlcblog.com) é extenso na opinião sobre o caráter de Maciel e provê um olhar detalhado sobre a crise que ele criou para seus seguidores. No hospital se reuniram Álvaro Corcuera, sucessor de Maciel e diretor geral: a secretária geral da Legião, Evarista Sada e numerosos outros associados. Maciel, segundo a reportagem, recusou fazer uma confissão, reagindo de modo que alguém convocou um exorcista, mas o artigo não descreve um ritual. As pessoas em torno de Maciel ficaram chocadas quando duas mulheres apareceram: Norma, a mãe e Normita, de 23 anos. A essa altura, segundo a reportagem, Maciel teria dito sobre as Normas: “Desejo ficar com elas.”
O artigo de El Mundo continua:
Os padres Legionários, alarmados com a atitude de Maciel, chamaram Roma. [Pe.] Luis Garza sabia ser este um grave problema. Ele consultou com a mais alta autoridade, Alvaro Corcuera, e então voou com o primeiro avião a Miami, indo diretamente ao hospital.
A indignação [de Garza] podia ser lida em sua face. Ele olhou o outrora poderoso fundador e o ameaçou: “Vou dar-lhe duas horas para vir conosco ou chamarei a imprensa e todo o mundo descobrirá quem você é realmente.” E Maciel deixou seu braço ser torcido.
Depois que os padres levaram Maciel a uma casa da Legião em Jacksonville, Fla., ele, segundo reportagem ficou beligerante quando Corcuero tentou ungi-lo, gritando: “Eu disse não!” O artigo diz que Maciel recusou fazer uma confissão final, e afirma secamente que ele “não acreditava no perdão de Deus”.
Esta é uma opinião que a sórdida vida de Maciel poderia muito bem suportar, mas para que, de fato não temos prova. Anunciando sua ascensão ao céu, seguindo imediatamente a morte de Maciel em 2008, o alto comando da Legião fez propaganda para um nível além da categoria.
Luiz Garza, aos 15 de março, numa resposta por e-mail a uma solicitação da NCR para um comentário do artigo de El Mundo, respondeu como segue: “Entendo que vocês tenham diversas perguntas. Mas, como eu disse em meu email anterior, a essa altura, com a situação como está, realmente não há mais nada que eu possa prover. Lastimo.
“Continuarei a orar por todos que sofreram com as ações do padre Maciel. E espero que você e seus leitores nos ajudarão em suas preces. Eu rezo por você e sua missão como jornalista.” (Tradução de Benno Dischinger, para o IHU.
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