Monóxido de carbono inalado cai na corrente sanguínea e aumenta os riscos de desenvolver problemas cardiovasculares. Levantamento foi feito em 2008 na cidade de São Paulo e avaliou a concentração da substância no organismo de pessoas que não fumavam
Fernanda Bassette, da Folha de S.Paulo
Mais de um terço dos moradores de São Paulo que não fumam possuem concentração de monóxido de carbono nos pulmões similar à dos fumantes, aponta levantamento do Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Segundo especialistas ouvidos pela
Folha, os resultados obtidos na capital paulista são semelhantes aos apresentados em estudos internacionais, que apontam que entre 30% e 40% dos não-fumantes consomem monóxido de carbono da fumaça do cigarro cronicamente.
A Secretaria de Saúde fez o levantamento no ano passado e ouviu 1.310 não-fumantes em locais fechados e abertos. Além de responderem a um questionário específico, os participantes fizeram o teste do monoxímetro -aparelho que mede a concentração de monóxido de carbono no organismo.
O teste é similar ao do bafômetro e avalia a quantidade da substância no ar expirado. O voluntário sopra em uma boqueira, e a concentração aparece no visor digital.
"É um teste muito fácil de ser aplicado. Todas as cidades deveriam ter esse equipamento, pois ele consegue apontar com eficiência a dependência do cigarro", afirma a psiquiatra Luizemir Lago, diretora do Cratod.
Segundo Lago, em não-fumantes, a concentração aceitável varia de zero a seis partes por milhão (ppm) porque é preciso considerar a poluição ambiental. Entre os fumantes leves, essa concentração varia de 6,1 ppm a 10 ppm; entre os fumantes moderados, o nível fica entre 10,1 ppm e 20 ppm e, entre os pesados, o valor oscila entre 20,1 ppm e 60 ppm.
Do total de avaliados, 18,32% tiveram resultado compatível com a concentração em fumantes leves, 15,27% dos testes apontaram resultados similares aos de fumantes moderados, e 2,29% indicaram níveis compatíveis com fumantes pesados. Os 64,12% restantes apresentaram níveis normais.
De acordo com o pneumologista Sérgio Ricardo Santos, coordenador do PrevFumo (ambulatório de controle do tabagismo) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ao inalar a fumaça do cigarro, o fumante passivo joga diretamente para o pulmão o monóxido de carbono, que é absorvido e cai na corrente sanguínea.
Uma vez no sangue, ele se liga às moléculas de hemoglobina (responsáveis pelo transporte de oxigênio) e ocupa as áreas de ligação com o oxigênio. Com o tempo, o sangue perde a capacidade de transportar oxigênio, o que pode causar problemas cardiovasculares mais graves.
"O monóxido de carbono é vasoconstritor e pode provocar o fechamento dos vasos sanguíneos. Além disso, há menos irrigação sanguínea e há alteração do funcionamento dos órgãos. São os mesmos fenômenos observados nos fumantes", explica o pneumologista.
A cardiologista Jaqueline Scholz Issa, coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor (Instituto do Coração), diz que já fez estudos semelhantes em São Paulo e constatou que mesmo quem sofre com a exposição contínua à poluição (como guardas de trânsito) não apresenta níveis tão elevados de monóxido de carbono no organismo.
"Os resultados são preocupantes porque mostram valores compatíveis com o organismo de quem fuma. O levantamento comprova que o tabagismo passivo não é inócuo e que essas pessoas estão expostas a riscos reais", afirma.
Segundo os especialistas, a única forma de se proteger desses danos provocados pelo cigarro é evitar frequentar lugares em que o fumo é permitido.
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