Léo Gerchmann
Especial para o UOL
Em Porto Alegre
O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Gonzalo Fernández, comprometeu-se a abrir todos os arquivos referentes ao exílio do presidente João Goulart (1961-1964) [foto], o Jango, deposto pelos militares no golpe que instaurou a ditadura brasileira, de 1964 a 1985.
Gaúcho de São Borja, Jango esteve exilado entre a Argentina e o Uruguai, países onde possuía propriedades rurais. Morreu em dezembro de 1976, na Argentina, oficialmente em razão de complicações cardíacas, mas sempre com a suspeita de assassinato pela Operação Condor (aliança político-militar que funcionou como um aparato repressivo de colaboração mútua estabelecido por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia).
De acordo com o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, que, acompanhado de João Vicente Goulart (filho de Jango), reuniu-se na semana passada com Fernández em Montevidéu, ficou acertado que, além dos documentos existentes no âmbito do Ministério de Relações Exteriores, também será "desclassificado" o "farto material" existente na "Dirección Nacional de Inteligencia y Informaciones", o órgão de inteligência uruguaio.
O Uruguai é presidido pelo esquerdista Tabaré Vázquez, um médico oncologista comprometido com os direitos humanos. González prometeu a Krischke e João Vicente se empenhar para que a desclassificação dos documentos seja efetivada com rapidez. O UOL tentou contato com o ministro, sem sucesso.
"Já fiquei sabendo da existência de farto material, tanto documental, por escrito, como fotográfico. É muito importante este gesto do governo do Uruguai. Serve para nós como um exemplo concreto de exercício pleno de democracia", afirmou Krischke, que se aproveitou para fazer uma crítica à forma como o assunto tem sido tratado no Brasil: "O lamentável é que no Brasil, frente aos outros países da região, estamos muito atrasados."
Tanto no seu exílio argentino quanto uruguaio, Jango se dedicou aos negócios de suas fazendas, até morrer, no dia 6 de dezembro de 1976. Sua morte já foi motivo até mesmo de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). Em termos políticos, ele vinha se unindo a outras lideranças, como o ex-governador fluminense Carlos Lacerda e o presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), para formar uma aliança pela redemocratização.
Mesmo sendo políticos moderados, os três e o cunhado de Jango, o governador Leonel Brizola (RS e RJ), eram cuidados à distância pelo regime militar, em razão da liderança que despertavam na população.
As mortes de Juscelino e Lacerda, no mesmo período, também são vistas por muitos como suspeitas.
Nos últimos anos, o uruguaio Mario Ronald Barreiro Neira, preso no Rio Grande do Sul como criminoso comum, tem dado entrevistas e depoimentos relatando a chamada "Operação Escorpião", que, segundo ele, resultou no assassinato de Jango. Neira diz que participou do grupo responsável pelo crime, o Gramma, que colocou comprimidos envenenados entre os remédios destinados a tratar os problemas cardíacos do presidente.
João Vicente Goulart está tentando, no Brasil, a reabertura das investigações sobre a morte de seu pai.
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Informações sobre a ditadura militar brasileira.
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