A IA está prestes a alterar radicalmente as estruturas de comando militar que não mudaram muito desde o exército de Napoleão

Apesar de dois séculos de evolução, a estrutura de um estado-maior militar moderno seria reconhecível por Napoleão. Ao mesmo tempo, as organizações militares têm lutado para incorporar novas tecnologias à medida que se adaptam a novos domínios — ar, espaço e informação — na guerra moderna. Benjamin Jensen professor de Estudos Estratégicos na Escola de Combate Avançado da Universidade do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos The Conversation plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas O tamanho dos quartéis-generais militares aumentou para acomodar os fluxos de informação e os pontos de decisão expandidos dessas novas facetas da guerra. O resultado é a diminuição dos retornos marginais e um pesadelo de coordenação — muitos cozinheiros na cozinha — que corre o risco de comprometer o comando da missão. Agentes de IA — softwares autônomos e orientados a objetivos, alimentados por grandes modelos de linguagem — podem automatizar tarefas rotineiras da equipe, redu...

Militar diz estar pronto para contar o que sabe sobre a Guerrilha do Araguaia (JB)

por Vasconcelo Quadros - Brasília

O tenente da reserva José Jiménez Vargas, ex-combatente do Exército que participou da fase de extermínio da Guerrilha do Araguaia, entre outubro de 1973 e fevereiro de 1974, garante: está disposto a prestar depoimento a qualquer comissão do governo, destinada a esclarecer sua participação no conflito. Inclusive detalhar o que vivenciou e ouviu durante o período em que foram mortos 32 guerrilheiros, alguns deles em episódios dos quais ele teve participação direta.

- Na época eu era sargento. Agora sei que estão ouvindo os oficiais. Nunca me procuraram, mas não vejo mais razão para esconder o que aconteceu - disse o tenente da reserva em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil.

Vargas, que era conhecido como Chico Dólar, comandou um Grupo de Combate formado por dez homens e integrou a equipe de militares treinados em guerra na selva que, em menos de seis meses, praticamente destruiu toda a estrutura que o PCdoB chamava de Forças Guerrilheiras do Araguaia (Foguera). A principal baixa foi a eliminação do comando da guerrilha por uma tropa mista formada por 120 pára-quedistas e 100 especialistas em guerra de selva treinados na Serra das Andorinhas, em Xambioá (TO).

Dupla relevância

O depoimento de Vargas teria dupla relevância. Ele não é apenas um combatente presente na fase do extermínio. Foi também importante homem de inteligência do Exército, lotado até 1994 nos serviços de informação de Marabá, Belém e Brasília.

- Participei e ouvi muitas histórias, mas sobre o Piauí (o guerrilheiro Antônio de Costa Pádua) posso provar porque fui eu quem o prendeu. A instituição (Forças Armadas) sumiu com ele em março de 1974 - afirma.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, garantiu que os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica estão empenhados em cumprir uma decisão da juíza Solange Salgado, da Justiça Federal de Brasília, que pede o resgate das informações que se encontravam nos arquivos das Forças Armadas, e os depoimentos de cerca de 40 oficiais que participaram do conflito para tentar encontrar as ossadas dos 58 desaparecidos no Araguaia.

- As respostas aos quesitos estão sendo processualizadas. Não podemos construir o futuro preocupado com o passado. Decisão judicial se cumpre! - disse o ministro.

Ele explicou, no entanto, que a Advocacia Geral da União (AGU), a quem cabe dar cumprimento à decisão judicial - que é definitiva por terem sido esgotados todos os recursos -, não estipulou um prazo.

Curió e Lício deverão prestar depoimento


As Forças Armadas mantém sigilo sobre a guerrilha do Araguaia, mas o comando de cada área está ouvindo oficiais. Os depoimentos mais aguardados são os do atual prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o maior arquivo do conflito, e o do coronel da reserva Lício Augusto Ribeiro Maciel, que comandou Curió.

Discretamente, o governo trabalha também em outras duas linhas distintas: uma delas é operada pelo ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), Paulo Vannucchi - ao qual está vinculada a Comissão de Mortos e Desaparecidos -, que prepara uma expedição de buscas à região do Araguaia e tem um verdadeiro acervo de informações sobre os guerrilheiros.

A outra, mais a título de colaboração para a hipótese de o governo levar a sério a identificação e localização dos restos mortais, envolve os processos de anistia que vêm sendo concedido pelo Ministério da Justiça a moradores e ex-guias que trabalharam para o Exército na região.

Camponeses

A Comissão de Anistia do MJ deverá indenizar, nos próximos dois meses, mais de duzentos camponeses que foram presos e torturados durante a repressão no Araguaia. A reparação financeira incluiria também os guias e facilitaria a busca de informações concretas para localização de várias ossadas. O tenente Vargas conta, no livro Bacaba - memórias de um guerreiro de selva da Guerrilha do Araguaia que os moradores eram torturados e recrutados à força para atender o Exército.

Diz ainda que, com medo, as famílias ofereciam suas filhas adolescentes para fazer sexo com os militares e que muitas esposas e filhas de camponeses se viram obrigadas a recorrer à prostituição para sobreviver enquanto os homens ficaram presos.

Por causa das revelações e a divulgação de documentos secretos em seu livro, Vargas respondeu a sindicância no Comando Militar do Oeste, em Campo Grande, no final do ano passado.

- A maior preocupação deles (militares) é que eu escreva outro livro e conte o que vi no DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, órgão repressivo da ditadura) e no serviço de informações - provoca.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, ele deu detalhes sobre tortura, prisões, a ordem de extermínio, sumiço de guerrilheiros e ainda apontou possíveis locais onde possam estar os restos mortais de parte dos 58 militantes do PC do B desaparecidos no Araguaia. (V.C.)

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