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Guilherme Genestreti, da Folha
Idosos com depressão estão mais propensos à demência. O risco de desenvolver o quadro é quatro vezes maior nesses pacientes, segundo o psiquiatra Jerson Laks. Ele participa do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que vai até amanhã, em Fortaleza.
"A própria depressão, às vezes, é sinal de estágio inicial de demência", diz Laks, que coordena o centro de idosos do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Em torno de 60% dos pacientes com demência apresentam também quadros de depressão. "O diagnóstico para diferenciá-las é difícil e os médicos precisam estar preparados para suspeitar das duas doenças e tratá-las", alertou Laks. Fatores biológicos, como a progressiva atrofia do cérebro, e psicossociais, como isolamento, falta de suporte familiar, inatividade e exposição a situações de luto favorecem o aparecimento de distúrbios de humor nas pessoas mais velhas.
SEM TRATAMENTO
"No idoso, a depressão é diferente. E pode ser muito perigosa, porque aumenta ou agrava a incidência de problemas cardiovasculares.
A mortalidade de pacientes depressivos internados por causa dessas doenças é muito maior", diz Laks. O pior é que muitos idosos com depressão não são tratados. O diagnóstico não é feito, os sintomas são confundidos com os da própria velhice, segundo Sérgio Luis Blay, coordenador de psiquiatria geriátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria.
"Pacientes e familiares pensam que tristeza e indisposição estão ligadas à idade e não buscam ajuda", diz Blay, alertando para a importância de consultar um médico em caso de mudança no comportamento do idoso.
PREVENÇÃO
Diagnosticada a depressão, o idoso deveria receber acompanhamento de grupos de apoio ou recorrer a sessões de psicoterapia. Falta suporte social para esse público, afirma Jerson Laks: "As famílias fazem tudo o que podem, mas faltam políticas públicas que informem sobre o problema e promovam centros de convivência para a terceira idade".
Os especialistas concordam que centros de convivência, grupos de reunião para práticas esportivas e viagens de lazer são muito importantes para prevenir a melancolia.
"Essas ações têm caráter mais social do que terapêutico, mas são essenciais, porque o isolamento e a inatividade podem desencadear a doença. Porém, se o problema já estiver instalado, é necessário contar com grupos de apoio e centros de saúde especializados, que são incipientes", afirma Blay.
"Não é só porque a pessoa é idosa que é normal ela ser depressiva. Esse estigma precisa mudar", conclui Laks. Com o estreitamento da pirâmide etária e o aumento do número de idosos, a depressão deve se tornar o maior desafio de saúde pública no futuro, segundo especialistas.
"A incidência de depressão entre idosos é muito alta e tende a ser crônica. Como é essa a faixa que mais cresce no mundo, a depressão será a doença mais preocupante", afirma Laks.
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