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Walter Oppenheimer, do El País, em 12 de agosto de 2010
O Vaticano decidiu manter em seus cargos dois bispos auxiliares de Dublin que, em dezembro passado, se viram obrigados a renunciar, contra a sua vontade, após serem criticados em um relatório sobre abusos sexuais de crianças na Irlanda ocorridos nos últimos 40 anos. A decisão de Bento XVI, que no passado havia aceitado outras demissões na Igreja irlandesa, é interpretada como um duro golpe para o arcebispo de Dublin,
Diarmuid Martin (foto), partidário da postura de mão dura com a hierarquia eclesiástica acusada de colaborar no encobrimento de sacerdotes pederastas.
Martin foi quem forçou a demissão dos bispos auxiliares Eamonn Walsh e Raymond Field, que resistiram apesar de terem sido criticados no relatório, publicado em novembro do ano passado, sobre os abusos. Sua demissão foi anunciada em uma carta conjunta lida aos fiéis de Dublin na missa de Natal passado.
A não aceitação por parte do Vaticano dessas demissões foi anunciada de forma muito discreta. O arcebispo Martin tornou-a pública aproveitando uma longa carta enviada a todas as paróquias de Dublin na qual aborda o tema da preparação dos fiéis para a Comunhão e, em particular, para a Confirmação. Em um dado momento, o arcebispo assinala que os bispos deveriam administrar a Confirmação ao menos uma vez a cada cinco anos.
E, de chofre, escreve: “Depois da apresentação de suas demissões ao Papa Bento, decidiu-se que o bispo Eamonn Walsh e o bispo Raymond Field continuem sendo bispos auxiliares e vão receber novas responsabilidades dentro da diocese. Isso significa que estarão disponíveis para administrar a Confirmação em qualquer parte da diocese no próximo ano”.
A existência da carta, datada de 10 de agosto, foi revelada primeiro pelo jornal The Irish Catholic. O mesmo jornal publicou depois uma cópia da carta em sua página na internet e a veracidade dessa carta e de seu explosivo conteúdo foi confirmada por ajudantes do arcebispo Martin.
Roma confirmou-a de maneira passiva através de seu porta-voz, o padre Federico Lombardi, que disse não ser prática do Vaticano anunciar publicamente que uma demissão foi negada, ao contrário de que quando uma demissão é aceita.
As agora frustradas renúncias são consequências de um relatório do Governo irlandês que concluiu que a hierarquia da Igreja ocultou da polícia as acusações de pederastia contra 170 sacerdotes desde os anos 1970 até mediados dos anos 1990. Os líderes eclesiásticos de Dublin começaram a informar o problema somente em 1995, mas logo seguiram mantendo o assunto em segredo até a chegada do arcebispo Diarmuid Martin, em 2004.
Em consequência do relatório, foram demitidos os bispos de Limerick, Donal Murray, e de Kildare, James Moriarty, ambos ex-bispos auxiliares de Dublin. A renúncia destes dois, sim, foi aceita por Bento XVI. O bispo de Galway, Martin Drennan, sempre se negou a renunciar apesar das pressões que recebeu para que deixasse o cargo. Os bispos Eamonn Walsh e Raymond Field também resistiram a apresentar sua renúncia, mas o fizeram ao ver que o arcebispo Martin não os apoiava em público.
Desde que lidera a diocese de Dublin, que assumiu em 2004, Martin renegou a política de seus predecessores de ocultar os abusos sexuais de seus sacerdotes e limitar-se a transferir os responsáveis ou suspeitos de abusos para outras dioceses da Irlanda, Reino Unido ou Estados Unidos. Para os setores mais liberais da Igreja, a decisão de Bento XVIde desautorizá-lo “representa uma bofetada no liberal e reformista bispo DiarmuidMartin, homem que tem tanto apoio popular que poderia vencer as eleições presidenciais do próximo ano”, segundo Garry O’Sullivan, diretor do The Irish Catholic. Mas não é apenas uma bofetada no arcebispo, mas, sobretudo, na política de mão dura com os encobrimentos que Martin representa.
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