Enem do servidor federal vai oferecer em 2024 mais de 7 mil vagas

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A partir de 2024 haverá uma prova nacional unificando o processo de seleção de servidores federais, um Enem dos Concursos”, como o objetivo de facilitar o acesso da população às provas, inclusive em cidades do interior. A primeira prova será realizada no dia 24 de fevereiro.  A estimativa de vagas é de mais 7 mil no primeiro ano do concurso, Provas serão simultaneamente em 179 cidades das 5 regiões Cada ministério poderá decidir se vai aderir a esse modelo ou fazer os concursos por conta própria. O exame acontecerá ao mesmo tempo em 179 municípios, sendo 39 na Região Norte, 50 no Nordeste, 18 no Centro-Oeste, 49 no Sudeste e 23 no Sul. Haverá duas provas no mesmo dia. Uma com questões objetivas, comum a todos, e outra com perguntas específicas e dissertativas, divididas por blocos temáticos. Os candidatos para Trabalho e Previdência farão a mesma segunda prova, por exemplo; já os candidatos para Administração e Finanças Públicas, outra. As vagas abrangem os seguintes setores: Administr

Existe diferença entre eutanásia e deixar morrer

por João Pereira Coutinho, da Folha de S.Pauloeutanasia

A última vez que o meu pai falou comigo foi para dizer o que eu já sabia. Ele estava deitado numa cama de hospital, consciente de que o fim era certo. Uma doença, uma terrível doença neurológica que se instalara dois anos antes, roubara tudo durante esse tempo. Roubara as caminhadas. Os gestos mais simples. O gosto pela mesa. E, finalmente, as palavras. Para alguém que sempre valorizara a conversa como forma suprema de civilidade, penso que o desaparecimento das palavras foi o golpe definitivo.

Restou apenas um corpo rigorosamente pétreo e inútil, mas com uma alma enorme aprisionada dentro dele. Nesse dia quente de verão, o meu pai abriu os olhos quando me aproximei; depois, abriu-os ainda mais (uma forma de chamamento).

Quando eu encostei o meu rosto ao dele, as palavras foram ditas com esforço desumano: "Máquinas, não". Não precisava dizer. A família conhecia o seu último pedido: máquinas, não. Quando o corpo se apagasse naturalmente, ele desejava partir naturalmente. Aceitando, no fundo, a conclusão do seu ciclo vital. A doença retirara-lhe muito; não lhe retirara a dignidade, que eu via intacta no seu olhar. Ligá-lo a uma máquina seria a traição definitiva ao homem que ele foi.

A minha história não tem nada de especial. É idêntica à história de incontáveis famílias que, na solidão anônima do sofrimento, se confrontam com o dilema: que fazer quando o corpo das pessoas que amamos se encaminha para o seu limbo sem possibilidade de retorno?

A questão não pode ser confundida com a vulgar eutanásia. Porque existe uma diferença fundamental entre matar e deixar morrer.

A primeira opção sempre me pareceu uma negação da ética médica e, além disso, um crime objetivo, que nenhuma sociedade civilizada deveria tolerar. Uma negação da ética médica, desde logo, porque a medicina existe para curar, não para matar. E a impossibilidade de cura não implica, logicamente, a transposição da fronteira que nos conduz para o homicídio puro e simples. O "direito à morte", proclamado pelos defensores da eutanásia, sempre me pareceu uma forma encapotada de defender o "dever de morte" quando a vida humana não pode ser vivida na sua plenitude.

Acontece que é possível não viver na plenitude das nossas capacidades físicas e, apesar de tudo, levar existências válidas e mesmo felizes. O meu pai foi também um exemplo de que a quebra da autonomia individual não significou necessariamente o apagamento da sua validade como ser humano. Legitimar o "direito à morte" não é mais do que aceitar que algumas vidas, apenas porque marcadas pela doença, ocupam um patamar inferior de dignidade.

Repito: existe uma diferença fundamental entre matar e deixar morrer. E a segunda opção, ao contrário da primeira, é precisamente o que sucede na Itália. O caso é conhecido: Eluana Englaro teve um brutal acidente de viação há 17 anos. Em coma irreversível durante esse período, a existência de Eluana é suportada por máquinas que fazem o trabalho por ela. Não falamos de uma vida.

Falamos de uma vida artificial, sustentada pelo trabalho de máquinas e não pelo mistério intangível a que alguns dão o nome de alma. Os pais, que há 17 anos estão em sofrimento com a filha, pretendem que o corpo da jovem possa cumprir o seu destino. A máxima corte de Justiça do país concorda com os pais e autoriza os médicos a não prosseguir com a alimentação artificial.

Mas o governo Berlusconi, pressionado pelo Vaticano e pelo eleitorado católico, pretende prolongar uma vida que, para todos os efeitos, já terminou há 17 anos. Desconheço como terminará o caso. Mas o que impressiona na história de Eluana não é apenas a forma como um drama familiar e privado se converte em guerrilha ideológica.
O que impressiona verdadeiramente é a própria definição de vida humana que o governo Berlusconi pretende converter em doutrina. Para Berlusconi, uma vida é apenas um simulacro de vida: um conjunto de funções fisiológicas que ocorre num corpo inerme.

O meu pai morreu no dia seguinte ao nosso último encontro. Foi uma morte sem sofrimento e sem drama.

Foi, se quiserem, um pacto justo: o corpo despediu-se dele e ele despediu-se do corpo. Mas foi também a morte de um católico: como homem de fé que era, o meu pai sempre acreditou que a vida humana depende do dedo de Deus. E eu sei que, para ele, teria sido uma suprema heresia substituir esse toque divino pelo dedo transitório dos homens.

> Morre Eluana Englaro, 38, que vegetava havia 17 anos. (9 de fevereiro de 2009)

Comentários

  1. Fiquei muito comovida com este caso..simplesmente sem palavras...

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