Enem do servidor federal vai oferecer em 2024 mais de 7 mil vagas

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A partir de 2024 haverá uma prova nacional unificando o processo de seleção de servidores federais, um Enem dos Concursos”, como o objetivo de facilitar o acesso da população às provas, inclusive em cidades do interior. A primeira prova será realizada no dia 24 de fevereiro.  A estimativa de vagas é de mais 7 mil no primeiro ano do concurso, Provas serão simultaneamente em 179 cidades das 5 regiões Cada ministério poderá decidir se vai aderir a esse modelo ou fazer os concursos por conta própria. O exame acontecerá ao mesmo tempo em 179 municípios, sendo 39 na Região Norte, 50 no Nordeste, 18 no Centro-Oeste, 49 no Sudeste e 23 no Sul. Haverá duas provas no mesmo dia. Uma com questões objetivas, comum a todos, e outra com perguntas específicas e dissertativas, divididas por blocos temáticos. Os candidatos para Trabalho e Previdência farão a mesma segunda prova, por exemplo; já os candidatos para Administração e Finanças Públicas, outra. As vagas abrangem os seguintes setores: Administr

"Não é possível ser feliz o tempo todo" (Folha)

Nesta entrevista o psicanalista britânico Adam Phillips ataca a glamourização da loucura e sua associação com a arte e diz que as pessoas precisam reconhecer que não é possível ser feliz o tempo todo.

ERNANE GUIMARÃES NETO

Em um mundo onde o verso "de perto, ninguém é normal" é entoado cotidianamente, a busca pela sanidade mental soa como inútil.

ninguemenormal Mas o psicanalista britânico Adam Phillips defende essa "ficção que mantém nossas expectativas". O autor de "Louco para Ser Normal" (ed. Zahar, trad. Maria Luiza X. de A. Borges, 160 págs., R$ 34,90), ataca a glamourização da loucura, mas faz uma concessão: a cultura do "muito louco" teve o mérito de quebrar preconceitos contra os alienados, facilitando a discussão pragmática da questão.
Para Phillips, que coordenou a recente edição das obras de Freud pela editora Penguin, o que se deve buscar não é a completa ausência de problemas, mas uma forma de lidar com eles -e isso inclui perceber outras idéias às vezes esquecidas, como a de que não podemos ser felizes o tempo todo.

Leia abaixo trechos da entrevista, concedida à Folha por telefone, do Reino Unido.

FOLHA - O que o levou a escrever "Louco para Ser Normal"?

ADAM PHILLIPS - Eu o escrevi por uma razão simples. Sanidade é um assunto pelo qual a maioria das pessoas não se interessa.

Contudo há um grupo muito interessado nela: as pessoas que foram loucas ou tiveram parentes loucos. Para os demais, sanidade é enfadonha; para esses, é um tema crucial.

Outra coisa que me interessou foi o fato de que, na Inglaterra, o movimento antipsiquiátrico -pessoas como R.D. Laing e David Cooper- esmoreceu muito rapidamente.

Quando estudei, 30, 25 anos atrás, essas pessoas eram interessantes, iluminadoras. Dez anos anos depois, não se falava mais nelas. E achei que tinham coisas interessantes a dizer.

Portanto foi uma combinação, na medida em que a idéia de sanidade ainda pode ser importante, mas o significado da palavra está morrendo.

FOLHA - Loucura está na moda?

PHILLIPS - Não. Foi moda, mas foi má idéia fazer dela uma moda. O problema foi que, para as pessoas levarem a insanidade a sério, ela teve de ser glamourizada. Foi transformada numa aventura.

Atualmente, para a maioria, é o oposto: miséria profunda, beco sem saída, sem nada de engraçado.

As pessoas que a tornaram moda foram responsáveis por duas coisas importantes. Os chamados "loucos" passaram a ser pessoas a ouvirmos, com coisas importantes a dizer -não são apenas gente que assusta. Outra coisa: pessoas que parecem ser normais podem ser mais loucas que os loucos.

FOLHA - Sanidade é um mito?

PHILLIPS - Não um mito, mas uma ficção que mantém nossas expectativas. É uma história ou descrição de estados mentais e modos de ser dos quais podemos ser capazes. É um estado da mente, por exemplo, em que as pessoas não perturbam demasiado umas às outras.

FOLHA - Há uma tradição que trata artistas como "gênios loucos". Isso faz sentido?

PHILLIPS - Houve a idéia romântica segundo a qual, para ser artista, é preciso ser louco -o que não me parece verdade. O que é verdade é que algumas pessoas que foram artistas foram também pessoas perturbadas e, a partir de seus distúrbios, criaram arte.

Assim, uma das razões para a glamourização da loucura é a associação com os artistas -"deve ser uma coisa boa, já que tantos artistas são bons".
Mas muito da loucura não é criativa, e sim anticriativa.

FOLHA - Pessoas sãs podem ser "legais"? Procurar o equilíbrio é o oposto de ser interessante?

PHILLIPS - Busquei, no livro, investigar se há uma versão atraente da sanidade -talvez não haja. Mas é possível que ainda não a tenhamos criado, pois a sanidade não é intrinsecamente sem graça.

Mas também acho que precisamos deixar de lado a idéia de "equilíbrio". Sanidade tem muito mais a ver com a capacidade de conter conflitos do que resolvê-los.

FOLHA - Por que devemos, como o sr. diz no livro, nos concentrar na sanidade, e não na doença? Afinal, a sanidade é "invisível", é mais difícil defini-la...

PHILLIPS - Entendo isso, mas quis mostrar que o problema da sanidade é ser invisível e que é o tipo de coisa dado como certo.

Precisamos descobrir o que acontece quando articulamos nossas idéias de sanidade. Podemos precisar fazer isso para encontrar novas fontes de esperança.

FOLHA - Conhece "Shyness" [Tmidez], de Christopher Lane? Ele diz que a indústria farmacêutica cria drogas para situações que não precisam de cura -como, segundo ele, a timidez. O sr. concorda?

PHILLIPS - Conheço e concordo.

A indústria farmacêutica tem sido um escândalo. Tem explorado as pessoas. Suas soluções são totalmente falsas. As pessoas deveriam ter muito cuidado com a cultura da droga como solução para as dificuldades de estar vivo.

FOLHA - Concorda que o DSM [manual de classificação de doenças mentais americano, referência mundial] abandonou a teoria freudiana em favor da bioquímica?

PHILLIPS - Não o tenho estudado, mas parece que todo o etos cultural tem se movido em direção à tecnologia das drogas em detrimento das curas pela fala ("talking cures").

De muitas formas, isso pode ser algo necessário, para que, com o tempo, a cultura da droga mostre que falhou, de modo a voltarmos à curas pela fala. O que a psicanálise tem a oferecer é a idéia de que não podemos ser curados... Não se trata disso.

FOLHA - De que se trata?

PHILLIPS - De duas coisas: ser capaz de se atrever a encontrar maneiras de conviver e transformar a si próprio. É ser capaz de reconhecer o fato de que -para dizer cruamente- não podemos ser felizes o tempo todo. Qualquer um que esteja completamente desperto sabe que a vida é extremamente difícil. Há uma frase em "Fim de Partida" [ed. Cosac Naify], de Samuel Beckett: "Você está na Terra; não há cura para isso".

FOLHA - E tentamos conversar para aprender o que fazer em seguida?

PHILLIPS - Sim, ou aprender os limites do que podemos fazer.
A psicanálise mostra a você as coisas que não dá para mudar a seu respeito.

FOLHA - Como traçamos os limites do normal? A timidez não é normal, por exemplo?

PHILLIPS - Deveríamos esquecer se as coisas são normais ou não e começar a pensar em quais são seus propósitos. Qual é o propósito da timidez para um indivíduo? Não perguntaríamos se é normal, se precisa ser curada, mas, sim: se tal pessoa é tímida, como ela está lidando com essa característica?

FOLHA - Seria um ponto de vista funcional?

PHILLIPS - Sim. Eu chamaria de visão psicanalítica pragmática.

FOLHA - Sanidade necessariamente se opõe ao hedonismo dos tempos atuais?

PHILLIPS - Como digo no capítulo "São Hoje", muito do hedonismo de hoje é uma forma de desespero, de desilusão.

FOLHA - No fim do livro, o sr. trata do uso de palavras como "tentação" e "força de vontade". O que pensa sobre a publicidade usar palavras como "tentação" com o fim de vender produtos?

PHILLIPS - Não gosto disso. Mas a educação precisa acompanhar o que acontece com a cultura. As pessoas deveriam aprender na escola como ler anúncios.

FOLHA - Tivemos, por exemplo, picolés batizados com os nomes dos pecados capitais.

PHILLIPS - Podemos pensar no que há de maravilhoso na inventividade disso tudo, mas também há a falta de objetivo.

Não precisamos de sete sabores de picolé, por exemplo. Há algo nesse excesso que é uma forma de lidar com um sentimento de empobrecimento que na verdade muitos têm.

FOLHA - Ainda sobre as formas de atender às necessidade psicológicas das pessoas, David Levy, em "Love and Sex with Robots" [Amor e Sexo com Robôs], diz que pessoas com dificuldades de sociabilidade poderão em breve comprar robôs para resolver seus problemas. Esse é um modo correto de procurar a sanidade?

PHILLIPS - É ridículo. Absolutamente não é o que interessa, é mais problema do que solução.

A questão real é: como as pessoas se tornaram alienadas dos únicos recursos verdadeiros de que dispõem, isto é, um ao outro? Sociabilidade é a característica humana fundamental.

FOLHA - Ele diria que os robôs poderão conversar com as pessoas, logo esse problema estaria resolvido.

PHILLIPS - Há uma resposta pragmática para isso: robôs são bons para quem gosta de robôs.

Nada contra gostar de robôs; tenho objeção à idéia de que isso seria uma solução para todo mundo.

FOLHA - Como identificar a tentativa de sanidade que "aprisiona" e diferenciá-la daquela que liberta?

PHILLIPS - A primeira coisa é arriscar. Não podemos saber de antemão qual será. Mas sabemos, sim, se estamos sendo complacentes, quando fazemos algo porque sentimos que deveríamos, ao invés de ser nosso desejo genuíno.
Sanidade, se é que vale alguma coisa, será algo na direção das coisas em que o indivíduo acredita realmente, nas quais está seu coração.

FOLHA - Mas alguém poderia dizer "estou bem com esse sentimento, quero permanecer assim, mesmo que me chamem de psicopata".

PHILLIPS - Algo é bom desde que não prejudique outras pessoas.

FOLHA - A questão é política?

PHILLIPS - Certo.

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