UnB é recordista no uso dos cartões corporativos (site Contas Abertas)
Como se não bastassem as denúncias de irregularidades do uso de verba envolvendo a Universidade de Brasília (UnB) e a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), uma busca no Portal da Transparência revela ainda que a UnB foi a fundação de ensino no país que mais gastou com a utilização de cartões corporativos nos últimos quatro anos. A universidade desembolsou R$ 1,2 milhão apenas em 2007 com o uso do cartão, incluindo verba sacada na boca do caixa, enquanto a Fundação Universidade Federal do Piauí, a segunda entre os maiores dispêndios com o mecanismo eletrônico, gastou três vezes menos (R$ 356,7 mil).
De acordo com o Portal, oito entidades ligadas à universidade tinham o cartão no ano passado, entre elas o Hospital Universitário de Brasília (HUB), o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) e a Faculdade de Educação Física (FEF). As compras das instituições em todo o campus incluem material de consumo, de limpeza, hospitalar, acadêmico, entre outros. Em 2006, eram sete as unidades detentoras de cartão. No entanto, os gastos foram ainda maiores. A soma das faturas dos cartões vinculados à Universidade de Brasília foi o equivalente a cinco vezes mais os gastos da segunda universidade na lista das que mais consumiram. Enquanto a UnB desembolsou R$ 1,5 milhão, a Universidade Federal do Paraná gastou R$ 269,4 mil.
Em 2005, a mesma situação. A UnB teve despesas com o cartão na ordem de R$ 400,5 mil, mais do que o dobro da segunda colocada, a Fundação Universidade do Amazonas (R$ 179 mil). Já no ano anterior, a Universidade de Brasília ficou em segundo lugar no ranking das entidades do Ministério da Educação que mais gastaram com o cartão de pagamento do governo. Porém, a diferença foi de apenas R$ 4 mil em relação à Universidade do Amazonas, R$ 173,5 mil contra R$ 177,5 mil.
Segundo o Portal da Transparência, a Fundação Universidade de Brasília também lidera os dispêndios com o cartão corporativo em 2008. Apenas neste começo de ano, a entidade já acumula gastos de R$ 122,2 mil com o cartão de pagamento do governo federal, o que representa um quarto do total gasto com os cartões corporativos de todo o Ministério da Educação e entidades vinculadas.
O cientista político Antônio Flávio Testa acredita que uma das justificativas para os valores gastos com o cartão é que a instituição deve ser uma das que mais faturam no país. “Veja o patrimônio da Finatec e sua origem, é um grande banco de negócios bem sucedidos. Cada universidade tem suas peculiaridades em relação a orçamento e receitas auferidas com consultorias, projetos e educação paga”, explica.
Testa afirma que somente uma auditoria técnica isenta poderá avaliar sobre a necessidade do montante gasto com o cartão. “Os valores parecem muito altos, mas é preciso analisar onde foi aplicado e qual a justificativa técnica desses gastos, antes de se emitir um parecer”, diz. Testa acrescenta que o excesso e o exagero são os temas que devem ser discutidos nos gastos com os cartões.
UnB vai reduzir em 50% o número de cartões
A secretaria de comunicação da UnB informou que os 202 cartões corporativos em poder dos servidores vão ser reduzidos pela metade. Segundo a secretaria, todos eles foram concedidos conforme as normas definidas pelo governo federal - o credenciamento para o porte do cartão é feito pela Diretoria de Contabilidade e Finanças para servidores do quadro nas diversas unidades acadêmicas e administrativas. Segundo a secretaria, nos últimos quatro anos os gastos têm sido acompanhados pela auditoria interna, pela Controladoria-Geral da União e pelo Tribunal de Contas da União. O órgão afirma que ao longo desses anos a universidade sempre teve suas contas aprovadas.
A secretaria afirmou também que o uso do cartão corporativo na UnB representa apenas 0,15% do orçamento total da universidade. “A gestão da UnB é feita de forma descentralizada, de forma a conferir agilidade administrativa na resolução de problemas. Para isso, cada unidade acadêmica e administrativa possui um ou mais cartões, dependendo do porte e da necessidade, para gastos emergenciais, com materiais que não constam no almoxarifado. Serve até para custear saídas de campo, quando os professores levam alunos a locais distantes para realizar pesquisas ou coletar materiais, por exemplo”, explicou.
A secretaria informou ainda que a UnB realizou, no início de fevereiro, uma auditoria interna sobre os gastos com cartões corporativos da instituição. “Esse procedimento detectou que dos 202 cartões pertencentes a servidores, cerca de 50% são pouco utilizados. Diante disso, a administração determinou a redução em 50% na quantidade de cartões. A auditoria não encontrou gastos irregulares ou não comprovados e nem mesmo desvio de finalidade no uso do cartão”, concluiu.
Leandro Kleber
Do Contas Abertas
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